Ciência
03/08/2022 às 06:30•2 min de leitura
Anna Essinger nasceu em 15 de setembro de 1879. Era a filha mais velha entre os nove filhos de um casal judeu não praticante. Aos 20 anos, se mudou da Alemanha para a cidade de Nashville, Tennessee, nos EUA, para começar sua vida universitária.
Em 1919, com o auxílio de um financiamento Quaker (grupo religioso dos EUA), retornou para a Alemanha com uma missão de montar cozinhas públicas para oferecer a crianças pobres ao menos uma refeição por dia.
Mais tarde, Anna trabalhou com sua irmã, Klara, que havia criado um orfanato na cidade de Herrlingen para cuidar de “crianças problemáticas”. Em 1926, o lugar foi transformado em um internato e Essinger passou a ocupar o posto de diretora.
Anna Essinger. (Fonte: Kent Online/ Reprodução)
Tinha uma legítima preocupação com as necessidades e interesses das crianças sob seus cuidados. Até a chamavam carinhosamente de Tante Anna (tia Anna).
Percebendo os perigos do nazismo, Anna boicotava silenciosamente o regime na tentativa de afastar ao máximo seus alunos das ideias do ditador alemão. Em certa ocasião todas as escolas foram obrigadas a hastear a bandeira nazista em comemoração ao aniversário de Hitler. Anna, então, pegou as crianças da escola e partiu em uma viagem de um dia para que elas não tivessem que ver a bandeira.
Cartaz: "Estudantes/Seja os propagandistas do Führer." Com apelos militantes ao nacionalismo, liberdade e auto-sacrifício. (Fonte: Library of Congress/ Holocaust Museum/ Reprodução)
Com a ameaça nazista cada vez mais próxima, Anna conseguiu a autorização dos pais de 66 crianças para que o internato fosse transferido da Alemanha para uma região ao sul da Inglaterra. Essinger passou seis meses planejando a fuga secreta de toda a sua escola da Alemanha nazista. A data escolhida para foi 5 de outubro de 1933.
A diretora, que já tinha 54 anos nessa época, selecionou seus funcionários mais próximos e confiáveis e os dividiu em uma rede composta por três equipes espalhada pela Alemanha. Os pais e filhos deveriam se dirigir para as três principais estações ferroviárias com rotas para fora do país com a maior discrição possível.
Paula Essinger, irmã de Anna, saiu de Munique recolhendo crianças em Herrlingen, Stuttgart e Mannheim. Martin Schwarz, professor de temas religiosos na escola, ficou responsável por pegar uma criança em cada estação ao longo do rio Reno, a partir da estação de Basel. Hanna Bergas, professora de história da arte, inglês e francês, cuidou do último grupo de crianças ao norte da Alemanha.
Apesar dos riscos, o plano deu certo. A nova escola da Inglaterra foi chamada de Bunce Court. Essinger ganhou o respeito e o apoio das autoridades locais. Até famílias britânicas ajudavam nos cuidados com as crianças.
Crianças na Bunce Court. (Fonte: Kent Online/ Reprodução)
Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, Anna foi chamada para cuidar de um campo de recepção de crianças judias-alemãs, recebendo mais de 10 mil delas.
Embora o objetivo fosse nobre, Essinger não deixou de observar que tudo aquilo parecia um “mercado de gado”, onde as crianças mais atraentes eram escolhidas primeiro para serem cuidadas, adotadas e amparadas.
Anna Essinger morreu em 30 de maio de 1960. Um ano antes, em seu aniversário de 80 anos, vários ex-alunos da Bunce Court fizeram uma homenagem à antiga professora que os salvara do nazismo plantando um bosque em Israel com seu nome.