Artes/cultura
12/09/2022 às 11:00•2 min de leitura
Você provavelmente já ouviu falar no Livro dos Mortos, mas o que você talvez não saiba é que, na realidade, não se tratava realmente de um livro. A verdadeira história por trás das instruções deixadas para os falecidos pode ser um pouco diferente do que você esperava.
A coisa toda teve origem nos rolos de papiros depositados nas tumbas egípcias, sobre a cabeça das múmias ou ao lado delas. Em alguns casos, eram até mesmo entalhadas no túmulo. A ideia era deixar ali algum tipo de instrução, ou até mesmo orações e feitiços, com a intenção de auxiliar os mortos em sua passagem para o Além.
No Antigo Egito, ao entrar em um túmulo, você jamais encontraria um livro propriamente dito. Cada tumba tinha seu próprio conjunto de instruções, e a este apanhado de papiros de diferentes autores e origens, com diversos tipos de textos diferentes, foi dado título de Livro dos Mortos.
Esses manuscritos tinham por finalidade dar uma mãozinha no julgamento da pessoa morta lá do outro lado, no pós-vida. Os egípcios acreditavam que, ao morrer, o ser humano ia parar em outro plano onde era devidamente julgado por seus atos na Terra. Por isso, relatos sobre a vida do parente ou amigo morto eram escritos em rolos de papiro e deixados para as múmias, assim glorificando e, de certa forma, guiando o julgamento de seus espíritos.
Wikimedia Commons/Reprodução
Segundo Barry Kemp, professor emérito de Egiptologia na Universidade de Cambridge, esses textos "preparavam os egípcios para a vida após a morte e tinham o poder de conjurar todas as partes do corpo de alguém para sua jornada espiritual". A ideia, segundo o professor, era a de que os feitiços e instruções depositados nas tumbas podiam conceder ao espírito do morto "o poder de navegar com sucesso — e pela eternidade — pelos vários reinos", sendo um guia para o além-vida.
Embora não houvesse mesmo um único Livro dos Mortos, alguns feitiços deixados para os mortos eram bastante populares e frequentemente utilizados na hora de preparar o papiro para o finado. Considerados como praticamente essenciais, alguns textos, como o Feitiço 17, que falava sobre a importância do deus Rá, eram quase que usados por padrão.
Também eram comuns algumas dicas deixadas para o espírito da pessoa morta. Por exemplo, ainda de acordo com o professor Kemp, em muitos casos os papiros continham instruções sobre o que fazer e como navegar pelos reinos dos deuses e demônios e "seus potenciais obstáculos".
Curiosamente, diversos dos feitiços escritos nos papiros eram voltados para a pessoa enquanto ainda viva. Segundo Foy Scalf, diretor do arquivo de pesquisas da Universidade de Chicago, muitos desses textos visavam auxiliar na experiência transcendental do humano no mundo dos vivos, podendo em seguida ser reutilizado no além para continuar o processo de elevação do espírito.