Como a obra “Os Lusíadas” transformou a língua portuguesa

10/11/2022 às 13:002 min de leitura

A obra Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, foi escrita em uma época em que a língua portuguesa ainda dava seus primeiros passos e ajudou a consolidar o uso do idioma que falamos até hoje. 

O poema épico publicado em 12 de março de 1572 é formado por 10 cantos, 1.102 estrofes e 8.816 versos rimados em oitavas decassilábicas. Hoje, ele é um dos livros mais cobrados em provas de vestibular pelo país, mas, além disso, ele é importante porque é praticamente a certidão de nascimento da língua portuguesa.

A língua do povo português

Camões Lendo "Os Lusíadas" aos Frades de São Domingos (1929), de António Carneiro. (Fonte: Wikipédia)Camões Lendo "Os Lusíadas" aos Frades de São Domingos (1929), de António Carneiro. (Fonte: Wikipédia)

Parece estranho pensar que nem sempre o idioma escolhido por autores portugueses tenha sido a língua portuguesa. Porém, no período em que Camões viveu, além do português, era comum a circulação de textos em castelhano e latim. 

O latim, em especial, era considerado a língua da cultura e as obras literárias eram normalmente escritas utilizando-o. Na realidade, a língua portuguesa não tinha nem mesmo esse nome, ela era chamada apenas de “linguagem”.

Para entender a escolha de Camões por escrever em português, basta relembrar o conteúdo do seu poema. Os Lusíadas é um poema épico que narra a descoberta, pelo navegador Vasco da Gama, da rota para a Índia, fato que consolidou Portugal como um dos responsáveis pela criação de rotas comerciais e exploratórias durante o século XV. A intenção de Camões foi glorificar os feitos dos portugueses e o heroísmo de seus navegantes. Assim, nada mais justo do que escrever a obra na língua que surgiu em Portugal, ou seja, a língua portuguesa.

Camões elevou a língua portuguesa ao status de língua de cultura

Capa da primeira edição d’Os Lusíadas, de 1572. (Fonte: Wikipédia)Capa da primeira edição d’Os Lusíadas, de 1572. (Fonte: Wikipédia)

Segundo a linguista Marcia Maria de Arruda Franco, da Universidade de São Paulo, tendo em vista que Os Lusíadas é um poema épico, ele se liga a outros textos do mesmo gênero, como os de Homero (da Grécia) e de Virgílio (de Roma). Isso consolida o processo de transformação da língua portuguesa em uma língua com a qual também se pode escrever textos literários.

Para Arruda Franco, Camões realizou por meio de seu poema uma defesa das línguas vulgares, ou seja, aquelas faladas no dia a dia. E foi esse processo, com o qual Os Lusíadas contribuiu, que levou as línguas nacionais a substituírem o latim.

Uma obra só para vestibulares?

Quatrocentos e cinquenta anos depois de ter sido publicado, Os Lusíadas é considerado o maior clássico da língua portuguesa. Isso por si só já é um motivo para lê-lo. Mas, além da importância para a história da literatura, a obra também oferece outros "benefícios". 

Hoje, com o conhecimento que temos sobre o que foi o colonialismo, ler a obra de Camões pode propiciar uma visão sobre a primeira forma de globalização e também sobre como as culturas e identidades que passaram pelo processo colonial sofreram com ele.

Conheça melhor o poema épico Os Lusíadas!

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