O gibi pornô usado para o combate do HIV no Carandiru

23/11/2022 às 09:003 min de leitura

Em 1991, era lançada uma história em quadrinhos que chegaria até o doutor Drauzio Varella e que impactaria na história dos homens presos no Carandiru. Esta é a história de O Vira-Lata, uma HQ criada por Paulo Garfunkel, como roteirista, e Libero Malavoglia, nos desenhos.

Ela surgiu após Garfunkel, músico profissional, imaginar um herói tipicamente brasileiro: seria um homem boêmio, multiétnico, com físico de pugilista e muita disposição para o sexo. Soma-se a isso a vontade do roteirista em criar uma HQ erótica que subvertesse as que já existiam na época. Nascia, assim, o Vira-Lata.

A trama de O Vira-Lata

(Fonte: Revista O Grito)(Fonte: Revista O Grito)

A história da revista se passava em São Paulo. Na trama imaginada por Paulo Garfunkel, um grupo de extermínio chamado Saneamento Básico andaria pelas esquinas da cidade matando prostitutas e moradores em situação de rua. Um sujeito desconhecido, seguidor do candomblé e perito em espadas, começa então a vingar cada um dos assassinatos e a desmontar a organização.

Ao mesmo tempo, o homem começa a ter flashbacks em que lembra de sua história. Sua mãe engravidou após ter várias relações sexuais com homens diferentes (com um negro, um japonês, um alemão e um ibérico) e seu pai é desconhecido. Ela acaba vítima de feminicídio.

Paulo Garfunkel em seguida encontrou o parceiro perfeito para trazer sua ideia ao mundo. O ilustrador Líbero Malavoglia compartilhava um amigo comum com o roteirista e acaba topando entrar na empreitada. Começa então a nascer uma nova HQ que foi publicada então na revista Animal, a principal publicação de quadrinhos do Brasil nessa época. 

A ideia da dupla era produzir quadrinhos eróticos permeados por uma trama de suspense e ação. "Sempre gostei de quadrinhos do gênero. Mas achava os enredos, em sua maioria, bem fracos. Eram meras desculpas para transas desconexas. Eu queria bolar algo melhor, uma história violenta e cheia de ação, com texto bem trabalhado", declarou Garfunkel para a BBC.

O gibi, contudo, tomaria outros rumos ao ser lido pelo marido da atriz Regina Braga - ninguém menos que o médico Drauzio Varella, que então chefiava o serviço de imunologia do Hospital do Câncer.

O Vira-Lata chega ao Carandiru

(Fonte: Veja)(Fonte: Veja)

Varella fazia um trabalho voluntário da casa de detenção do Carandiru. Depois de ler uma edição de O Vira-Lata, ele teve a ideia de entrar em contato com Paulo Garfunkel.

Na época, um dos principais problemas de saúde enfrentados nos presídios era a epidemia de AIDS. O médico se esforçava em fazer campanhas de conscientização sobre a doença, mas os panfletos que criava eram jogados no lixo e as palestras que dava não atraíam ninguém.

Foi então que ele teve uma ideia: proporia aos detentos que quem fosse à palestra poderia depois assistir a um filme pornô. O resultado é que suas palestras começaram a lotar.

Como notou que os detentos liam gibis para passar o tempo, ele resolveu fazer uma proposta a Garfunkel, que havia se tornado seu amigo, para que tornasse seu personagem em uma ferramenta de comunicação. A ideia era criar histórias direcionadas para a população carcerária, informando sobre os métodos contraceptivos e o uso de drogas.

Paulo Garfunkel e Líbero Malavoglia passaram então a produzir novas histórias com a orientação de Drauzio Varella. O personagem só faria sexo com camisinha e se posicionaria contra as drogas injetáveis. O gibi passou a ser distribuído gratuitamente dentro do Carandiru, e seria descontinuado apenas com a desativação da cadeia.

A nova história de Vira-Lata

(Fonte: Miguel Salles)(Fonte: Miguel Salles)

O herói Vira-Lata, para se ambientar com o novo local, se torna um ex-presidiário. "Ele visita os camaradas, fica sabendo de algum problema e sai para resolvê-lo. Eu também achava importante que as aventuras tivessem sexo explícito, com camisinha. E que o protagonista fosse avesso a drogas injetáveis", contou Drauzio Varella.

Mesmo com o fim do presídio do Carandiru, em 2002, houve uma proposta de levar os cinco mil exemplares já impressos para uma cadeia em Curitiba. Porém, eles foram considerados impróprios e acabaram sendo queimados.

Ainda assim, entrou para a história a iniciativa de um médico e de dois artistas que, por conta própria, fizeram um importantíssimo trabalho que colaborou com a diminuição dos índices de HIV entre a população carcerária e desestimulou o uso de drogas injetáveis, que causam grande risco de contaminação.

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