Artes/cultura
17/12/2022 às 11:00•2 min de leitura
Quando você pensa nas características de um anjo, o que imediatamente vem à sua mente? Acredito que sejam as asas, certo? E se nós te disséssemos que essa representação angelical — cabelos enroladinhos, auréolas e asas — nunca foi descrita na Bíblia? Pois é! Mas, antes de entendermos como é a verdadeira figura de um anjo, precisamos entender a natureza deles na tradição cristã.
Você sabia, por exemplo, que o significado de "anjo", do latim angelus, quer dizer "mensageiro de Deus"? Então, vamos começar por aí!
(Fonte: iStock | Divulgação)
Apesar da Bíblia citar a figura dos anjos inúmeras vezes, nunca foi mencionado que eles tinham asas. Para a cultura cristã, os anjos são espíritos puros de luz, o que significa que eles não poderiam ter corpos físicos. A aparência visível da representação angelical, que muitas vezes é relatada nos salmos e contos, é uma forma utilizada para que possamos vê-los com nossos olhos. Há casos, inclusive, de anjos que passaram despercebidos entre os seres humanos "comuns" no Livro Sagrado.
A Igreja Católica tenta explicar, por meio de uma passagem de Santo Agostinho, qual é a essência verdadeira dos anjos. "Anjo é nome de ofício, não de natureza. Desejas saber o nome da natureza? Espírito. Desejas saber do ofício? Anjo. Pelo que é, é espírito. Pelo o que faz, é anjo. Com todo o seu ser, os anjos são servos e mensageiros de Deus. Pelo fato de contemplarem continuamente o rosto do meu Pai que está nos céus". (Mt 18, 10),
Se são espíritos de luz, e não possuem forma humana, quem foi que inventou as asas dessas figuras? Calma que a gente explica!
(Fonte: Shutterstock)
Imagina viver nos tempos antigos, em uma época onde a internet nem sonhava em existir, e observar um pássaro bater as asas, voar e chegar perto do céu? A sua conclusão poderia ser a de que o pássaro estava voando para encontrar Deus, certo? Essa pode ser uma analogia um tanto quanto boba para os tempos atuais mas, no passado, fazia todo o sentido para os cristãos praticantes. Além disso, naquela época, os pássaros assumiam a posição de "mensageiros", levando as palavras e as informações de um lugar para o outro. Lembra quando dissemos acima, na passagem de Santo Agostinho, que o catolicismo explica que os anjos são servos e mensageiros de Deus? Pronto!
Dessa forma, a partir do século IV, os artistas começaram a diferenciar os anjos dos seres humanos em suas pinturas. Assim, as asas foram a forma encontrada para se referir ao caráter mensageiro das criaturas angelicais. A primeira descrição conhecida de uma representação de anjo com asas está no Sarcófago do Príncipe, em Sarigüzel, perto de Istambul. Estima-se que ela teria sido produzida entre os anos de 379 e 395.
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Existe também uma segunda teoria do "nascimento" das asas dos anjos, considerada controversa para muitos cristãos. Antes da Igreja Católica, as divindades aladas eram muitos populares e difundidas por outras religiões. Com a chegada e estabelecimento do catolicismo, os missionários viam na figura dos anjos com asas uma possibilidade de "apelar" aos pagãos e convertê-los a nova religião que havia surgido. Os anjos — com asas — era algo que eles podiam relacionar as crenças mais antigas com a recém-iniciada religião católica.
A teoria pode ser verdade, como também pode ser apenas um mito. O fato é que, de qualquer forma, as asas passaram a ser um fator extremamente importante para a arte religiosa, não apenas por converter pagãos em novos católicos, mas pelas representações celestes que elas ajudaram a criar.