Ciência
11/01/2023 às 09:00•2 min de leitura
Após quase 90 anos desde seu lançamento, A Mandíbula de Caim, escrito pelo editor de palavras cruzadas do jornal The Observer, Edward Powys Mathers, ressurge nas redes sociais como um projeto de esforço coletivo. Considerado o livro mais misterioso de todos os tempos, ele consiste em um romance ímpar onde é preciso solucionar mistérios de assassinato com um material limitado, havendo milhões de combinações e apenas uma única resposta para os casos.
Recentemente, a obra se tornou viral no TikTok após Sarah Scannell, uma assistente de documentário em São Francisco, fazer uma série de vídeos apresentando os conteúdos e a proposta das 100 páginas destacadas. Com isso, o livro ganhou uma enorme repercussão e foi reimpresso pela editora Unbound — estratégia seguida em diversos locais do planeta, incluindo no Brasil, pela Intrínseca.
Escrito sob o pseudônimo de "Torquemada", A Mandíbula de Caim conta a história de seis vítimas de assassinato e seus respectivos executores. Para conceituar tal ideia, o mestre de palavras cruzadas reuniu uma centena de páginas e as imprimiu em uma ordem aleatória, revelando mais de 32 milhões de combinações e exigindo que seja realizada uma análise complexa “por meio da lógica e da leitura inteligente”.
Desde a década de 1930, apenas quatro pessoas conseguiram solucionar os casos do livro. Logo após o lançamento, W. S. Kennedy e Saxon Sydney-Turner trouxeram as conclusões dos assassinatos à tona, enquanto um idoso com nome não identificado revelou uma carta de parabéns do próprio autor em 2016 e John Finnemore, comediante e autor de palavras cruzadas, deu início à onda viral mais recente, em meados de 2020.
(Fonte: Intrínseca / Reprodução)
“Eu rapidamente concluí que estava fora do meu alcance, e a única maneira de tentar seria se, por algum motivo bizarro, eu estivesse preso em minha própria casa por meses a fio, sem nenhum lugar para ir e sem um para ver”, disse Finnemore, em entrevista ao The Guardian. “Infelizmente, o universo me ouviu.” Segundo ele, foi necessário cerca de quatro meses para encontrar a resposta certa da obra de Powys Mathers.
Powys Mathers, morto aos 47 anos e com poucas informações divulgadas sobre sua vida pessoal, é visto como a primeira pessoa a reunir palavras cruzadas, enigmas e pistas de raciocínio complexo em um conjunto literário. Com A Mandíbula de Caim, o autor estabeleceu novos parâmetros para o gênero de suspense investigativo e abriu portas para o lançamento de obras instigantes e capazes de estimular os leitores a imergir nos mistérios.
Segundo Filipe Reblin Costa, mestre e doutorando em Letras na Universidade de São Paulo (USP), essa categoria é capaz de movimentar as massas e traz conteúdos amplamente voltados para o entretenimento. Anteriormente considerado fraca e taxada por tons pejorativos, o tipo de leitura policial foi impulsionado pela acessibilidade, estando regularmente entre os mais vendidos e trazendo abordagens cada vez mais inspiradoras.
Mesmo com quatro pessoas tendo identificado a solução do livro, ela permanece em mistério e é confirmada apenas via e-mail. Com a viralização, o quebra-cabeça literário já está traduzido para mais de 12 idiomas e tem vendas estimadas em dezenas de milhares de unidades — tudo em apenas 20 dias desde sua disponibilidade em maior escala.