Artes/cultura
23/01/2023 às 11:00•2 min de leitura
No Antigo Egito, muitos animais mumificados eram valorizados como oferendas votivas, o que seria um intermédio entre os mortais e os deuses ou encarnações de diferentes divindades. Por esse motivo, não era nada absurdo que os fabricantes de múmias recuperassem as carcaças de animais selvagens ou domésticos unicamente com o propósito de mumificá-las — capturando os alvos em seu ambiente natural.
No entanto, um novo estudo publicado no Journal of Archaeological Sciences foi o primeiro que encontrou evidências concretas de que a caça naquela sociedade poderia servir como método de aquisição para a mumificação. Além disso, os crocodilos eram potencialmente tratados de forma diferente de outras criaturas.
(Fonte: Stéphanie Porcier/Divulgação)
Liderados por Stéphanie M. Porcier, da Université Paul-Valéry Montpellier III da França, um grupo de pesquisadores encontrou um exemplar de múmia com aproximadamente 2 mil anos. O cadáver pertencia a um crocodilo, que muito provavelmente foi obtido após um fornecedor de animais se esgueirar e atingir a criatura desavisada com um golpe mortal na cabeça.
“A causa mais provável da morte é uma fratura craniana grave na parte superior do crânio que causou um trauma direto no cérebro”, descreveu Porcier em sua pesquisa. De acordo com o estudo, o fornecedor iniciou o processo de mumificação da fera "muito rapidamente após a morte".
Em primeiro lugar, o amassado no crânio do crocodilo foi mascarado para que o corpo pudesse ser tratado com óleo e resinas. Então, o cadáver foi envolvido em camadas de linho. A análise dos restos mortais mostram que a última refeição do animal — composta por ovos de répteis, insetos, peixes e um roedor — ainda estava em seu estômago no momento do embalsamento.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Segundo o comunicado divulgado à imprensa pelos pesquisadores, a equipe usou tecnologias de imagem avançadas para realizar uma autópsia virtual da múmia, descoberta durante escavações feitas na cidade egípcia de Kom Ombo durante o início do século XX. Atualmente, esse crocodilo é uma das 2,5 mil múmias de animais armazenadas no Musée des Confluences em Lyon, na França.
Com base na nova análise, o animal era um macho juvenil medindo cerca de 1 metro de comprimento. Ele possuía de 3 a 4 anos no momento de sua morte. Embora os cientistas reconheçam que é praticamente "impossível estabelecer" se o crocodilo caçado é uma anomalia ou produto de uma prática generalizada, eles acreditam que estudos futuros podem mostrar resultados semelhantes sobre como os fornecedores de múmias trabalhavam.
No Antigo Egito, animais como cães, gatos, babuínos, cavalos, cabras e pássaros eram bem preservados e reverenciados como mensageiros capazes de transmitir pedidos aos deuses. Os crocodilos, por sua vez, eram normalmente associados a Sobek, um poderoso deus da fertilidade representado como uma divindade com cabeça de réptil e corpo de homem. Sendo assim, mumificar uma dessas feras podia ser um pedido para que uma nova vida pudesse surgir.