Artes/cultura
03/02/2023 às 06:38•2 min de leitura
Muito antes de Brasília existir, o Rio de Janeiro era a capital do Brasil. Contudo, muita gente se esquece que essa não foi a primeira mudança de capital no nosso país — o primeiro centro das decisões políticas da colônia foi em Salvador, na Bahia.
O Brasil nasceu no litoral — especificamente no litoral do Nordeste, onde fica a primeira capital, Salvador. Foi no Monte Pascoal, na atual Porto Seguro (BA), que Pedro Álvares Cabral invadiu o que veio a ser chamado eventualmente de Terra de Vera Cruz, em 1500. Depois disso, a colonização europeia passou por vários outros pontos da costa, como Olinda (PE), Cabo Frio (RJ) e São Vicente (SP) até a construção de Salvador, em 1548.
Esse é o período da nossa história conhecido pelas capitanias hereditárias — grandes faixas de terras que a Coroa Portuguesa cedia a exploradores particulares, da nobreza. A criação de um governo-geral representando a Coroa era uma tentativa de organizar a exploração da colônia e protegê-la. Na época, nosso principal produto era o pau-brasil, que vinha principalmente do Nordeste.
Porém, nos dois séculos seguintes, muita coisa mudou. A maior transformação foi a descoberta de ouro nas Minas Gerais. Sim, esse é o principal motivo da transferência da capital do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro. Mas as coisas não são tão simples...
Panorama da Praia de Botafogo e do Morro da Viúva. (Fonte: Museu Imperial / Iluchar Desmons)
Quando se tornou capital do Brasil, em 1763, o Rio de Janeiro ainda era uma cidade pacata, de cerca de 30 mil habitantes — embora já estivesse entre as mais populosas da colônia, não era a mais importante. Tornou-se, de fato, após se tornar capital.
É muito comentado que a mudança aconteceu porque o Rio de Janeiro era o principal porto para escoar a produção das Minas Gerais. Isso é uma meia verdade, uma vez que o ciclo do ouro, iniciado em 1690, já estava em decadência em 1763. Na real, o objetivo era justamente controlar o que ainda restava e tentar dar um novo impulso a esse comércio.
Acontece que o ouro não era o único "produto" que passava pelos portos do Rio de Janeiro: também havia um grande fluxo de pessoas escravizadas, que (infeliz e terrivelmente) eram essenciais para a economia do Brasil, na época.
Largo do Paço Imperial, atual Praça XV, no Rio de Janeiro. (Fonte: O Diário Imperial / Jean Baptiste Debret, c. 1830)
Existe ainda um terceiro fator que estimulou a mudança da capital para o Rio de Janeiro: sua proximidade com as províncias ao sul do Brasil, próximas da América Espanhola. Essa era uma época muito próspera para os espanhóis na região da Argentina e Uruguai. Como a região sul tinha grandes relações com os vizinhos, a Coroa Portuguesa queria proteger essa fronteira.
Do Rio de Janeiro, os governantes portugueses estariam muito mais próximos para negociar com os espanhóis — e até para se defender, caso as coisas piorassem.
O principal entusiasta da mudança era Sebastião José de Carvalho e Melo, na época secretário de Estado e, depois, Marquês de Pombal. Ele tinha grande influência sobre João V e, também, sobre seu sucessor, José I — que assinou a transferência da capital. Na opinião de Pombal, a família real deveria se instalar no Rio de Janeiro. Mas isso, como sabemos, só foi acontecer lá em 1808, quando a corte fugiu das tropas de Napoleão.