Artes/cultura
22/03/2023 às 06:30•2 min de leitura
Distrito de Tabapuã, cidade da região Noroeste do estado de São Paulo, Japurá chegou a ter 3 mil habitantes no início do século passado e quase se emancipou. Mas uma epidemia de malária e febre amarela mudou completamente a história do local, que atualmente mais se parece com uma “cidade fantasma”.
Surgida na primeira década do século XX, a partir da expansão da Estrada de Ferro Araraquarense (EFA), a vila recebeu uma estação ferroviária em 1911, possibilitando escoar a produção agrícola. A inauguração também permitiu a chegada de pessoas de várias partes do país em busca de trabalho.
Com a população crescendo, a vila ampliou o comércio, incluindo a abertura de farmácias e açougues, entre outros estabelecimentos, além de ganhar escola e igreja. Por volta de 1920, até uma cadeia pública foi construída no distrito, que fica há pouco mais de 400 km de distância da capital paulista.
Tudo ia bem até por volta de 1930, quando Japurá começou a registrar uma série de casos de malária e febre amarela. O vilarejo fica próximo ao rio São Domingos e em uma área de mata, combinação perfeita para atrair os mosquitos transmissores das duas doenças.
Plataforma da estação de Japurá em 2002. (Fonte: Gerson Donnini/Reprodução)
A falta de conhecimento a respeito das doenças, aliada à ausência de saneamento básico e à dificuldade de acessar os serviços de saúde, contribuíram para que os casos de malária, principalmente, explodissem na região. No auge da epidemia, de 12 a 15 mortes por dia eram registradas.
O medo de se contaminar era tão grande que muitas famílias abandonavam a vila logo após enterrarem seus entes queridos. A situação causava pânico nas pessoas que moravam nas cidades próximas, que tinham medo de ir até lá e voltarem doentes.
No mesmo período, aconteceu a quebra da bolsa de valores de Nova York, que ficou conhecida como “Crise de 1929” ou “Grande Depressão”, afetando a produção de café, principal fonte de renda da região. Já com a população reduzida, Japurá sofreu outro golpe alguns anos mais tarde, que decretou o seu fim.
Em 1951, a estação ferroviária foi desativada, com os trilhos da linha férrea sendo desviados para 1,5 km de distância dali. A vila ficou marcada pelas mortes e ninguém mais queria ir para lá, mesmo com as doenças controladas.
A estação abandonada em julho de 2018. (Fonte: João Martins/Reprodução)
A quantidade de moradores reduziu-se ainda mais nas décadas seguintes, restando pouquíssimas famílias. Ana Idalina Braz, a "dona Petita", foi a última moradora original de Japurá, tendo ficado por lá mesmo durante a pior crise enfrentada pela cidade — ela morreu em 2021.
Mas o cenário de abandono, que inclui construções em ruínas e tomadas pelo mato, pode mudar em breve. A administração de Tabapuã planeja transformar o distrito em patrimônio histórico cultural, criando um museu na antiga casa da moradora mais antiga da vila.