Láudano: a droga favorita da época vitoriana

07/04/2023 às 09:002 min de leitura

Em cada época, as pessoas daquele tempo parecem ter a sua "droga" favorita. Na romântica era vitoriana, muitos artistas e intelectuais (como a poetisa Elizabeth Barrett Browning e a matemática Ada Lovelace) gostavam do láudano, uma bebida preparada com vinho branco, açafrão, cravo, canela e ópio, que era usada como medicamento.

O láudano foi criado no século XVI pelo alquimista Paracelso, que criou uma mistura de tintura de ópio com álcool. Já no século XVII, o médico Thomas Sydenham simplificou a fórmula e elaborou uma receita que passou a ser comercializada e vendida amplamente, como um remédio que servia para tudo.

Por volta do início do século XIX, a bebida estava amplamente disponível em bares, mercearias, farmácias, tabacarias e até confeitarias. Como era mais barata que o álcool, costumava ser ainda mais consumida. Médicos poderiam prescrever o láudano para tudo: desde para acalmar bebês, tratar dor de cabeça, reumatismo, tosse, até para atenuar melancolia e "problemas femininos".

O láudano na Era Vitoriana

(Fonte: JVC)(Fonte: JVC)

Durante a época vitoriana, entre 1837 a 1901, o láudano passou a ser usado por muitos escritores, poetas e artistas, que ficaram viciados na substância. Entre os que a consumiam, estava gente como Bram Stoker, Charles Dickens, George Eliot, Lord Byron e vários outros.

Alguns deles tomavam quando tinham doenças, mas outros se tornaram dependentes. O caso mais célebre é do escritor inglês Thomas De Quincey, que escreveu em 1821 o livro "Confessions of an English Opium-Eater" falando sobre o seu consumo de derivados do ópio. A obra espalhava a ideia de que droga estimulava a criatividade e trazia inspiração aos artistas.

Outro caso famoso foi o do influente poeta romântico Samuel Taylor Coleridge. Ele sofria de problemas de saúde e passou a usar o láudano como um sedativo e analgésico. A princípio, ficou inspirado e compôs o poema “Kubla Khan” após acordar de um devaneio causado pelo ópio. Mas logo a droga se tornou um vício que o atormentou pelo resto de sua vida.

Em 1814, Coleridge estava muito mal e sofria de abstinência, quando escreveu uma carta a um amigo em que dizia que os efeitos da droga se abatiam também sobre seu caráter. "Neste negócio sujo de Laudanum, enganei-me cem vezes (...). E, no entanto, todos esses vícios são tão opostos à minha natureza que, se não fosse pelo veneno aniquilador de ação livre, eu realmente acredito que teria me permitido ser cortado em pedaços, em vez de cometer qualquer um deles", escreveu.

Carreiras prejudicadas pelo láudano

(Fonte: JSTOR Daily)(Fonte: JSTOR Daily)

Outra artista prejudicada pelo láudano foi a poetisa Elizabeth Barrett Browning. Ela tomou o medicamento pela primeira vez aos 15 anos, após sofrer uma lesão na coluna. Depois voltou a usar a substância várias vezes. Em uma correspondência, chegou a revelar que tomava 40 gotas da droga por dia, o que é uma dose bastante alta mesmo para quem está acostumado.

A artista, modelo e poeta Elizabeth "Lizzie" Siddal — que ficou famosa por ser retratada em obras célebres como "Ophelia", de John Everett Millais — também ficou viciada em láudano. Sua história é bastante trágica.

Em 1861, quando perdeu uma filha, ela se afundou de vez na droga. No ano seguinte, Lizzie engravidou mais uma vez, mas o marido — o famoso pintor Dante Gabriel Rossetti — a encontrou inconsciente após ter uma overdose. Ela havia morrido prematuramente por conta do láudano.

O romancista Branwell Brontë, que era irmão de Emily, Anne e Charlotte Brontë, também era viciado. Enquanto suas irmãs usaram seu sofrimento para criar obras memoráveis, Branwell morreu pobre e sem dinheiro em 1848, quando tinha apenas 31 anos. 

A partir de 1868, o láudano começou a sofrer sanções e ter seu uso restrito. Com a chegada em 1899 de outro analgésico bem mais seguro — a aspirina —, o láudano começou a ser esquecido.

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