Ciência
22/04/2023 às 06:30•2 min de leitura
Você já tomou uma decisão inesperada, apenas para ver as consequências que ela poderia causar? No final do século XVI, um rei persa decidiu elevar essa curiosidade a um nível muito mais alto, apenas para ver se uma profecia sobre o fim do mundo iria se concretizar de fato.
Abas I, também conhecido como Abas, o Grande. (Fonte: Wikimedia Commons)
Abas I, foi o 5º xá do Império Safávida da Pérsia, entre 1588 e 1629. Ele costuma ser lembrado como um dos maiores governantes da história iraniana. Parte deste reconhecimento vem do fato dele ter conseguido retomar a ordem de seu reinado em um período que a Pérsia enfrentava uma situação bastante conturbada política, militar e economicamente.
Um dos motivos que fizeram com que Abas I se tornasse um governante bem-sucedido, foi o sistema ghilman. Por meio dele, milhares de soldados-escravos circassianos, georgianos e armênios se juntaram à administração civil e militar da Pérsia. Abas assumiu o trono com apenas 16 anos, enquanto o Império Otomano e os uzbeques tentavam assumir o controle do território persa. Mas graças à sua habilidade em administrar seu reino e lidar com revoltas populares e com conflitos contra outras nações, se manteve no poder por mais de quatro décadas.
Estátua de Abbas I, que estava em exibição na cidade iraniana de Isfahan, antes da Revolução Iraniana (Fonte: Wikimedia Commons)
No final do século XVI, Abas I enfrentou uma série de rebeliões organizadas por membros de um culto conhecido como "pointista" — derivado de uma religião conhecida como "letrista", que acreditava que as letras do alfabeto árabe possuíam um poder cósmico. Eles acreditavam que a vida na Terra seguia 4 ciclos cósmicos que aconteciam a cada 6 mil anos. E a cada novo ciclo era inaugurada uma era de domínio persa ou árabe.
Abas conseguiu conter as rebeliões pointistas em 1591 e condenou os líderes à morte. Mas em 1594, os pointistas que haviam conseguido escapar da condenação apresentaram uma profecia que dizia que um deles ocuparia o trono. Segundo essa predição, o ciclo persa estava prestes a acabar e o novo líder iria dar início à era árabe.
Sem acreditar no que os pointistas falavam, Abas decidiu "pagar para ver". Ele ordenou que um dos prisioneiros fosse solto e o nomeou rei — ele teria até mesmo se colocado como um servo real. Abas aguardou pelo fim do ciclo persa por três dias, quando ficou evidente que nenhuma grande calamidade ocorreria.
Depois de provar que a profecia não era verdadeira, Abas executou o "rei pointista" e ordenou que todos os outros prisioneiros fossem mortos também. Os poucos que conseguiram escapar fugiram para a Índia, onde o culto conseguiu resistir por algum tempo, até que foi incorporado a uma religião local.