Artes/cultura
03/07/2023 às 12:00•3 min de leitura
Escondida por entre os picos dos Himalaias existe uma curiosa pequena vila, cheia de estranhas regras e que, ainda assim, atrai turistas o ano todo. O local, um vilarejo chamado Malana, é particularmente conhecido por um de seus principais produtos: o Malana Cream, feito à base de haxixe.
Chegar ao lugar não é nada fácil, além de que turistas não têm permissão de se hospedar ou pernoitar no vilarejo. Pior ainda, por ali existem muitas regras estranhas, como por exemplo não ser permitido tocar nos habitantes locais, seus objetos pessoais ou até mesmo nas paredes de suas casas. Ainda assim, pessoas de todo o mundo visitam o lugar constantemente e aos montes em busca de seu famoso produto, digamos, "inusitado."
Ainda que seja um local cheio de todo tipo de regra esquisita, curiosamente seus pouco menos de 2 mil habitantes são bastante amistosos com visitantes, ainda que não seja permitida a hospedagem de forasteiros na pequena vila. Desde que não desrespeitem suas normas, turistas não apenas são bem-vindos como são muito bem tratados. A coisa muda um pouco quando os forasteiros decidem, por vontade própria, por descuido ou até por desconhecimento, quebrar alguma determinação local.
Localizado na região dos Himalaias, Malana tem pouco menos de 2 mil habitantes
Por exemplo, é muito comum que, ao ser tocado por um turista, um morador simplesmente se retire para lavar as mãos, trocar de roupa ou até mesmo tomar banho. O motivo é simples: eles se consideram superiores a todos que vêm de fora, então ao menor sinal de que foram expostos a "impurezas," eles buscam se limpar. A prática é menos comum entre as gerações mais jovens, mas em geral os adultos são adeptos do costume.
A ideia de superioridade vem de muitos séculos atrás. O povo de Malana acredita ser descendente do exército de Alexandre, o Grande. Reza a lenda que no ano de 326 a.C., o famoso exército se abrigou na região para se recuperar dos ferimentos após sua batalha contra Poro, rei do antigo Estado de Paurava, localizado no território do Punjabe, na Índia.
Mesmo que nenhum estudo genético tenha sido feito para confirmar a tal ancestralidade, a ideia de que o povo de Malana seja descendente dos guerreiros de Alexandre é tida no local como fato inquestionável. E, para preservar a "pureza" do povo, qualquer morador que se relacionar com alguém de fora é imediatamente banido, por exemplo.
Por mais que faça parte do território indiano, Malana não segue as leis do governo da Índia. Por muito tempo o vilarejo chegou até mesmo a evitar qualquer tipo de contato com vilas vizinhas, vivendo uma vida bastante isolada — o que, de certa forma, faz sentido levando em conta a ideia de superioridade.
Moradores se acham superiores a turistas e acreditam ser descendentes do exército de Alexandre, o Grande
A pequena vila himalaia ainda tem suas regras e costumes próprios, mas hoje em dia é muito mais aberta. Tanto é que o lugar é destino de visitantes e turistas durante todo o ano, e não apenas em períodos de temporada. Isto se dá por conta do cultivo da canábis, que cresce ao logo de todo o ano e movimenta bastante a economia e o comércio local.
A canábis cultivada em Malana é considerada de alto grau de pureza. Quando extraído, seu óleo seca e ganha uma consistência cremosa, conhecida como Malana Cream. O entorpecente é ilegal, mas isto não impede sua fácil comercialização no vilarejo.
São vários os fatores que contribuem para esta "liberdade" do comércio da droga. A começar pela dificuldade de chegar ao local: são necessárias muitas horas de trajeto em um percurso muito complicado, o que dificulta a ação da polícia indiana. Além disso, Malana não reconhece o governo da Índia, sendo extremamente hostil a qualquer ação policial em seu território. Para eles, suas próprias regras e costumes rígidos são mais do que suficiente.
A canábis de Malana é considerada de alto grau de pureza, sendo usada para criar o famoso Malana Cream
Outro ponto que dificulta o controle do cultivo de canábis na região é a constante migração das plantações. Embora seja difícil chegar ao vilarejo, o governo realiza ofensivas contra a produção de drogas ilegais, o que leva os plantadores a mudarem para outros locais, já que permanecer no mesmo terreno por muito tempo facilita a ação policial.
E mesmo que todo o governo se mobilizasse para tentar barrar a produção do haxixe, tal esforço seria praticamente inútil: afinal, as condições locais são favoráveis à criação da canábis, que cresce naturalmente na vegetação local. Assim, Malana segue seu cotidiano independente, com a curiosa interação entre moradores e visitantes, além da comercialização aberta do haxixe, sendo um verdadeiro paraíso para turistas que buscam experimentar o famoso entorpecente Malana Cream.