Mitos e verdades sobre as orgias de gregos e romanos

20/07/2023 às 10:002 min de leitura

Ao ouvir o termo "orgia", é comum a gente pensar logo em festas extravagantes, repletas de muito sexo e excentricidades, não é mesmo? Isso é normal, já que fomos acostumados a ver essa expressão ligada às histórias de imperadores como Calígula, que dormia com as irmãs na frente dos convidados, e Nero, que fazia festas regadas a muita música, comida e corpos cheios de erotismo.

Mas o que era de fato as orgias na Antiguidade? Elas têm o mesmo sentido de hoje? Seria a cultura greco-romana um antro de perdição e luxúria? 

Uma questão ritualística

Dionísio (ou Baco, para os romanos) é o deus dos vinhos e das festas. (Fonte: GettyImages / Reprodução)Dionísio (ou Baco, para os romanos) é o deus dos vinhos e das festas. (Fonte: GettyImages / Reprodução)

Originárias dos rituais gregos que veneravam Dionísio (deus das festas e do vinho), as orgias faziam parte das chamadas "religiões de mistérios", que eram cultos comuns nas culturas greco-romanas. Contudo, apenas aqueles que eram iniciados e que mantinham tais cerimônias em segredo é que podiam participar.

Nessas celebrações, despontavam emoções avassaladoras de paixão e êxtase. Os ritos, que se valiam do excesso dos sentidos, adotavam até mesmo a violência, buscando a transcendência espiritual com o divino.

Assim, a orgia não era simplesmente uma reunião voltada ao mundano e ao pecaminoso. Sua função era ritualística, como uma maneira de alcançar o esplendor místico e aproximar os humanos das divindades. 

O filtro da cultura

As artes contribuíram para a noção atual de orgia. (Fonte: GettyImages / Reprodução)As artes contribuíram para a noção atual de orgia. (Fonte: GettyImages / Reprodução)

Se as orgias tinham cunho ritualístico, por que a expressão hoje está tão relacionada a eventos de depravação e muito sexo? Bem, essa é uma questão mais recente. 

Foi somente nos séculos XVIII e XIX, principalmente com influência da literatura francesa, que o termo passou a ser associado às festas em que os excessos eram a regra, com destaque para os exageros sexuais, alimentares e alcoólicos. 

Gustave Flaubert, escritor francês, chegou a dizer em um de seus contos que essas festas eram repletas de mulheres bonitas nuas, indicando o evento como uma celebração desenfreada dos prazeres carnais. 

Da mesma forma ocorre no filme Satyricon, do diretor italiano Federico Fellini, que retrata a Roma antiga cheia de festas onde transbordavam os desejos sexuais e a luxúria. 

Nem tudo é o que parece

A moralidade cristã relacionava as orgias ao Diabo. (Fonte: GettyImages / Reprodução)A moralidade cristã relacionava as orgias ao Diabo. (Fonte: GettyImages / Reprodução)

É importante destacar que, apesar das descrições sedutoras das orgias na Antiguidade, elas não eram tão comuns quanto podemos imaginar.

Embora retratadas como festas excessivamente sensuais e voltadas exclusivamente aos prazeres, é essencial compreender que as orgias não aconteciam o tempo todo como podemos acreditar, ainda mais aquelas que tinham caráter ritualístico e religioso.

Além disso, a visão negativa cresce com o cristianismo, que fortaleceu ainda mais a perspectiva moral que alguns antigos já tinham, associando as orgias aos pecados e à influência de Satanás.



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