Artes/cultura
26/07/2023 às 04:00•2 min de leitura
Ao escavar uma caverna perto de Jerusalém, um grupo de pesquisadores recentemente descobriu os restos de antigos crânios humanos, lâmpadas a óleo e pontas de lança. Na visão dos estudiosos, esses artefatos podem indicar que o local foi usado durante a era romana em rituais destinados a se comunicar com os mortos — uma prática conhecida como necromancia ou "magia da morte".
Conforme relata o estudo publicado na Harvard Theological Review, os arqueólogos acreditam que esses rituais macabros datam entre os séculos II e IV d.C., que eram feitos na chamada caverna Te'omim.
(Fonte: Projeto Arqueológico Caverna Zissu/Te'omim)
Essa não é a primeira vez que a caverna Te'omim aparece no meio de assuntos bizarros. No passado, o local já serviu como pano de fundo para inúmeras lendas e conflitos da vida real devido à sua água de nascente natural. Na Idade do Cobre, a caverna serviu como esconderijo para rebeldes judeus durante a revolta de Bar Kokhba e desde então costuma receber uma boa porção de visitantes.
No entanto, os relatos recentes mostram que a região também serviu como local de culto necromântico pagão. “A Caverna Te'omim nas colinas de Jerusalém tem todos os elementos cultuais e físicos necessários para servir como um possível portal para o submundo”, descreve o estudo.
Os objetos achados na área teriam sido usados de uma forma ou outra para feitiçaria e magia. O propósito desses rituais era tentar prever o futuro e invocar os espíritos dos mortos. Ao todo, mais de 100 lâmpadas de óleo de cerâmica foram encontradas, mas apenas três crânios humanos até agora. Por conta disso, os pesquisadores acreditam que o foco principal das cerimônias girava em torno do depósito das lâmpadas para que as entidades "se manifestassem".
(Fonte: Projeto Arqueológico Caverna Zissu/Te'omim)
A necromancia era um tipo de ritual considerado maléfico pelos romanos e que foi proibido em grande parte do Império Romano. Em Israel, no entanto, muitas cidades antigas tinham locais secretos de "oráculos" próximos, onde as pessoas acreditavam que a linha entre os reinos dos vivos e dos mortos se tornava tênue.
Logo, seria a oportunidade perfeita para se comunicar com alguém que já estava morto. Quando os arqueólogos descobriram os inúmeros artefatos na caverna Te'omim, muitos desses artefatos estavam escondidos em pequenas fendas. Isso sugere que aqueles que participavam desses rituais pretendiam manter a situação em segredo.
Para apoiar ainda mais a hipótese de que tais objetos tinham relação com a necromancia, os pesquisadores buscaram por fontes literárias clássicas e evidências documentais para identificar itens recorrentes nesse tipo de culto. A presença de ossos humanos, por exemplo, indica que o ritual tentava estabelecer uma conexão com o falecido.
As lâmpadas de óleo, por sua vez, eram um componente chave das práticas necromânticas. Durante o chamado "período clássico", acreditava-se que as lâmpadas carregavam uma força profética ao permitir que espíritos entrassem em contato, ou em alguns casos até deuses e demônios. Embora seja impossível prever a extensão total dos rituais necromânticos em Te'omim, os pesquisadores acreditam que os itens recuperados fornecem uma excelente visão sobre o passado da região.