Ciência
29/11/2023 às 03:00•2 min de leitura
A divisão do trabalho entre os sexos, por mais que pareça antiga, dada a presença de civilizações que muitas vezes colocavam os homens numa posição de destaque, acima das mulheres, não se relaciona com a forma como povos pré-históricos se desenvolveram.
Vemos hoje que em muitas representações desse período, aparecem apenas figuras masculinas caçando, mas a verdade é que essa divisão de tarefas pode ser muito mais recente do que imaginamos.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Como destacou um artigo publicado no Journal of Archaeological Science em 2012, fósseis neandertais, que viveram entre 400 mil e 40 mil anos atrás, apresentavam uma série de características comuns que evidenciavam como homens e mulheres compartilhavam diversas tarefas em seu dia a dia.
Lesões traumáticas foram percebidas em ossos de pessoas de ambos os sexos, e apesar de ser considerado que elas não decorriam exclusivamente da caça, denotavam que, se havia algum tipo de divisão, ela não influenciava em todas as atividades desempenhadas pelo grupo.
Outras populações também organizaram, da sua própria maneira, o uso de diferentes tipos de armas ao longo da história. E essa estratégia de obter a participação das mulheres nas tarefas de caça não seria isolada a um único grupo, sendo algo que pode ser percebido pelo uso de diferentes instrumentos.
Sepultamentos também indicam que a divisão do trabalho no passado seria menos pronunciada: um corpo feminino, que data de 9 mil anos atrás, foi encontrado no sítio arqueológico de Wilamaya Patjxa, no Peru.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Junto aos restos mortais, foram encontradas diversas ferramentas utilizadas para caça no período, inclusive, parte delas era usada para abater animais de grande porte. A mulher, que teria morrido entre 17 e 19 anos, fornece uma amostra significativa da participação feminina nesse tipo de tarefa.
Pesquisadores acreditam que a distinção entre sexos não seria inerente ao ser humano, mas fruto de processos que foram construídos ao longo de muito tempo. Como reflexo dessa distorção, mulheres passaram a ser consideradas incapazes de contribuir com tarefas que exigiam muito, fisicamente falando, e os homens se tornaram sinônimo de força.
Mas ao se aprofundar em particularidades que dizem respeito ao sexo biológico, essa superioridade não se sustenta. Na verdade, as mulheres são consideradas mais resistentes que os homens para percorrer grandes distâncias correndo, reforçando que a diferenciação possibilita especializações distintas. Isso porque elas possuem uma maior concentração de estrogênio que os homens.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
O hormônio, associado a um melhor desempenho atlético, seria bastante útil na hora da caça. Ele promove uma lenta queima de gordura, e por sua vez, reduz a fadiga e fornece uma energia sustentada numa maior faixa de tempo.
Inclusive, o estrogênio também mostra ter um papel decisivo na recuperação das atividades físicas. Ao regular a resposta à insulina, ele atua reduzindo a resposta inflamatória e estabilizando as células do organismo, o que evita os danos que eventualmente surgem durante a prática de atividades.
Por se tratar de um grupo de diferenças biológicas, não devem ser refletidas em preconceitos sobre as mulheres e não devem sustentar a desigualdade. No entanto, para avançar nesse sentido, ainda é preciso fazer muito para buscar meios de enaltecer a participação feminina e de explorar ainda mais como se deu a sua participação em diferentes períodos.