Ciência
08/09/2024 às 12:00•3 min de leituraAtualizado em 08/09/2024 às 12:00
Ao longo da história do cristianismo, sempre houve o temor da tentação provocada pelo demônio. Isso suscitou o medo de que as manifestações do tinhoso aparecessem em diferentes lugares.
O medo mais comum é o do número 666, que é descrito no Apocalipse como o número da besta (há até um nome para esse tipo de medo: hexakosioihexekontahexafobia). Mas supostamente o demônio já colocou a sua "cara" em vários lugares inusitados. Em alguns deles, foi preciso de muita criatividade para fazer essa associação com o diabo.
Os cartões de créditos da VISA e Mastercard começaram a circular e a se popularizar nos anos 1960 e 1970. Contudo, alguns grupos evangélicos resolveram enxergar neles a marca do anticristo. Houve até uma louca teoria conspiratória que dizia que a palavra VISA, em diferentes idiomas, designaria o número 666.
Isso se dava por que o número seis, em algarismos romanos, é VI. Já o S é supostamente a 6ª letra do alfabeto grego, e a letra babilônica equivalente a um "A" seria também um seis. Com tudo isso, formaria o fatídico 666, o número do satanás.
Contudo, uma pesquisa rápida na internet para checar já mostra que zeta, a 6ª letra do alfabeto grego, não se parece com um S, e que o A em cuneiforme babilônico não se parece nem remotamente com um 6. Mesmo assim, o medo dos cartões de crédito circulou por um longo tempo.
Os códigos de barras foram elaborados nos anos 1970 pelos engenheiros da IBM Joe Woodland e George Joseph Laurer III. Mas logo depois da apresentação da novidade, houve uma série de protestos contra eles. Um executivo da IBM que foi inspecionar os primeiros scanners em um supermercado de Los Angeles teria recebido a informação de que o código carregava a marca da besta.
A teoria era que cada uma das três barras longas de guia no código representava um 6. Para completar a loucura, Laurer recebeu uma carta de um maluco que se identificou como satanás e que perguntava ao engenheiro como ele se sentia por ter executado seu plano.
O furor diminuiu até que, em 2012, um distrito escolar norte-americano foi processado por uma adolescente e sua família por exigir que ela usasse um crachá de identificação com um código de barras. Os pais afirmaram que o código carregava a marca do demônio, e que exigir que sua filha o usasse violaria os seus direitos religiosos.
A Bitcoin é uma criptomoeda descentralizada que não possui uma supervisão central. E até ela já foi colocada sob suspeita de carregar alguns informações do anticristo.
A paranoia até faz algum sentido se formos pensar que, com as criptomoedas, a identidade de uma pessoa está vinculada a todas as transações financeiras registradas no blockchain, o que facilita a vigilância. Todo esse monitoramento já foi associado aos efeitos maléficos de um possível controle feito pelo demônio.
Logo quando as primeiras vacinas contra a COVID-19 foram lançadas, as teorias da conspiração começaram a circular. O rapper Kanye West (que não é conhecido exatamente por sua sanidade mental) declarou: "eles vão inventar uma vacina, e todo mundo vai ter que tomá-la... e dentro dessa vacina vai haver algum tipo de dispositivo eletrônico de computador, algum tipo de chip em nós, e essa é a marca da besta". Sobrou até para Bill Gates, que supostamente teria colocado chips de rastreamento nas vacinas.
É claro que nada disso é real. Mas houve até governos e instituições médicas que conspiraram contra as vacinas, o que incluía argumentos de que elas poderiam ser diabólicas. No fim das contas, a única coisa que elas fizeram foi salvar pessoas de um vírus potencialmente mortal.