Ciência
15/07/2024 às 10:00•3 min de leituraAtualizado em 15/07/2024 às 10:00
Construída em estilo gótico e erguida ao longo de quase dois séculos, a Catedral de Notre Dame é um dos símbolos da cidade de Paris. Fechada para reformas desde o trágico incêndio que a atingiu em 2019, ele deve tornar a abrir as portas em dezembro de 2024, após o término das Olimpíadas que ocorrem este ano na capital francesa.
Patrimônio Mundial da UNESCO, a catedral era, até seu fechamento, visitada por milhões de turistas, que iam atrás de suas arquitetura e engenharia fascinantes, mas também em seus vitrais coloridos que compunham um clima de misticismo no ambiente. O espaço foi inspiração para pinturas, poemas e livros, como O Corcunda de Norte Dame.
Acima das portas principais de Notre Dame, sob a balaustrada, há uma sequência contendo 28 estátuas de 3,5 metros cada, representando os reis de Judá. Conhecida como Galeria dos Reis, parte desses monumentos foi danificada durante a Revolução Francesa. Uma multidão de revoltosos invadiu a catedral e confundiu as estátuas com símbolos da realeza.
As cabeças foram quebradas e levadas embora, empilhadas em uma rua próxima e largadas ali por cerca de três anos. Recuperadas por um advogado que as utilizou como fundação da mansão que construía, foram reencontradas em 1977, durante a ampliação do porão do Banco Francês de Comércio Exterior.
Resgatadas por arqueólogos, as cabeças passaram por um detalhado exame que identificou que as estátuas, e provavelmente toda a Catedral de Notre Dame, já foram pintadas em alguma época. Hoje, elas residem o Museu de Cluny. Já as estátuas foram reformadas no século XIX, por Viollet le Duc.
A Revolução Francesa não teve muito zelo pelos bens que considerava que representavam a monarquia deposta. Quem também não teve vida fácil foi a Igreja Católica, que deveria abrir espaço para um ideal baseado em "liberdade, igualdade e fraternidade". Dessa forma, a Catedral de Notre Dame acabou gravemente danificada.
No início do século XIX, seu estado deplorável de abandono quase fez com que fosse demolida, ideia que ficou para trás graças, em parte, ao romance O Corcunda de Notre Dame. A escrita da obra reavivou os laços com o espaço, levando autoridades a restaurarem a catedral. Coube ao arquiteto Eugène Viollet le Duc o trabalho, iniciado em 1844 e finalizado em 1867.
Poucos sabem, mas o arquiteto fez suas próprias adições à estrutura, como as 56 quimeras perto da torre e um pináculo de madeira, destruído pelo incêndio de 2019. Ele também incluiu uma estátua do apóstolo Tomé no telhado, além de uma das cabeças restauradas da Galeria dos Reis se parecer com ele, uma espécie de assinatura.
Como todo grande espaço secular que passou por reviravoltas em sua história, a Catedral de Notre Dame guarda relatos que indicam ser um espaço mal-assombrado. Há diferentes lendas, começando pela do sineiro fantasma que aparece no Natal e a dos sete homens decapitados em busca de suas cabeças.
Mas a história mais repetida sobre a Notre Dame diz dos espíritos de duas mulheres que voam os telhados entre as gárgulas de pedra. Elas seriam uma jovem e uma idosa, que estavam visitando a torre da catedral e desapareceram misteriosamente quando uma chuva torrencial começou.
As portas principais da Catedral de Notre Dame impressionam pela complexidade do trabalho executado. Até os dias atuais, profissionais discutem o quão impressionante foi a execução em um período com ferramentas limitadas para os ferreiros do período medieval.
O trabalho foi executado pelo artesão Biscornet que, desejoso de provar seu talento, passou horas trabalhando em fornalhas dando luz às formas retorcidas e rodopiantes. Após meses, ele entregou as portas que deixaram os parisienses chocados, surgindo o mito de que Biscornet teria feito um pacto com o diabo para conseguir criar um objeto tão surpreendente.
O artesão morreu pouco tempo depois, provavelmente vitimado pelo estresse e exaustão causados pela execução das portas. Os mais supersticiosos dizem que é possível vê-lo à noite, sentado em frente à catedral, admirando seus redemoinhos que parecem o número da besta, 666.