Estilo de vida
29/10/2024 às 03:00•3 min de leituraAtualizado em 29/10/2024 às 03:00
Em mais uma boa reviravolta histórica, a roda pode ter nascido entre as montanhas dos Cárpatos, na Europa Oriental, há cerca de 6 mil anos. Essa nova teoria, apresentada por um estudo recente, sugere que mineradores de cobre dessa região precisaram inovar para enfrentar os desafios da mineração, criando um dos dispositivos mais revolucionários da humanidade: a roda.
A invenção da roda impulsionou o transporte, a manufatura e o desenvolvimento das civilizações. No entanto, sua origem ainda é incerta, com várias teorias, incluindo a proposta deste novo estudo, buscando explicar onde e como ela surgiu.
Em 2016, o professor e historiador Richard Bulliet, da Universidade de Colúmbia, sugeriu que a roda teria surgido nas Montanhas dos Cárpatos (cordilheira de vai da República Tcheca até a Romênia) cerca de 6 mil anos atrás, ou seja, perto de 4000 a.C. Para o pesquisador, a roda era invenção que teria surgido gradualmente pelas mãos de mineradores da região.
Bulliet acredita que, pelo fato do cobre ter se tornado mais raro, os mineradores foram forçados a ir mais fundo nas minas, tornando necessário desenvolver um sistema de transporte mais funcional e que exigisse menos reposicionamento dos cilindros.
Antes da roda, cargas pesadas eram movidas sobre troncos no chão, exigindo constante reposicionamento, o que era ineficiente, especialmente em minas apertadas.
O novo estudo, que conta com a participação de Bulliet, parte dessa premissa e aponta que o cenário desafiador nas minas levou à criação de um novo tipo de transporte, que representava uma evolução do sistema de rolos livres.
A primeira inovação foi adicionar encaixes e ranhuras nos rolos, estabilizando as cargas e permitindo movê-las com mais facilidade, economizando energia e esforço. A segunda inovação foi conectar rodas a um eixo fixo, trazendo estabilidade e permitindo o transporte em terrenos acidentados, semelhante aos carrinhos de mineração atuais.
Por último, a terceira inovação, só teria acontecido cerca de 500 anos após a segunda, com a criação de rodas independentes, ou seja, elas não giravam juntas com o eixo. Essa modificação facilitou a manobrabilidade e contribuiu para o surgimento dos veículos de transporte propriamente ditos.
O estudo que propõe essa origem para a roda, conduzido por engenheiros e historiadores, utilizou modelos computacionais e de mecânica estrutural para simular como o sistema de rolos evoluiu para o sistema de roda e eixo.
Eles concluíram que o desenvolvimento da roda pode ser entendido como um “caminho de descida” em termos de eficiência energética, no qual o design se torna cada vez mais funcional para as necessidades do ambiente de mineração.
Outro ponto que reforça teoria vem de escavações feitas nas montanhas dos Cárpatos, onde foram encontrados mais de 150 modelos de carroças em miniatura feitos de argila, todos datados de 3600 a.C., com alguns desses modelos tendo grandes alças, sugerindo que possivelmente eram canecas de bebida.
Essas pequenas carroças de cerâmica são as representações mais antigas de transporte sobre rodas conhecidas no mundo e indicam que essa invenção dos mineradores não só solucionou um problema prático, mas também se tornou um símbolo cultural e de status.
Embora o estudo aponte as montanhas dos Cárpatos como o provável berço da roda, ainda é possível que outras civilizações tenham descoberto a roda de forma independente, em locais como a Mesopotâmia e o norte da Turquia, entre os anos de 4000 e 3000 a.C.