Conheça o gnosticismo, uma doutrina que remete ao início do cristianismo

Se você gosta de estudar a história das religiões, precisa saber mais sobre o gnosticismo, termo que designa um conjunto de crenças de natureza filosófica e religiosa, construído a partir de interpretações da Bíblia, de textos apócrifos e de mistérios vindos da cultura grego-romana e oriental.

O princípio básico do gnosticismo se centra na ideia de que dentro de cada homem há uma essência imortal que transcende a sua própria existência. Considerada uma doutrina herética por um longo tempo, a história do gnosticismo também ajuda a entender o desenvolvimento dos primeiros séculos do cristianismo.

O que é o gnosticismo?

O termo gnóstico vem do grego “gnosis”, cujo significado é “conhecimento”. Para os seguidores dessa doutrina, a salvação só será obtida a partir de um conhecimento profundo sobre a existência e o cosmos.

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Os gnósticos são pessoas que veem o mundo material como uma criação defeituosa – a verdadeira essência da humanidade estaria na centelha divina que nos é inacessível no plano terreno. Ou seja, cada ser humano possuiria dentro de si uma parte de Deus.

Assim, quem estuda o gnosticismo teria a possibilidade de conhecer as verdades ocultas que nós, por nossos defeitos essenciais, não conseguimos acessar normalmente. O mundo material, imperfeito e mau, estaria abaixo do mundo espiritual superior, que seria o verdadeiro lar das almas. 

O curioso é que os primeiros gnósticos eram cristãos. Contudo, como suas crenças sobre o divino se diferenciavam das visões cristãs, eles acabaram sendo vistos como hereges. Entre elas, está a ideia de que o mundo foi criado pelo Demiurgo, que seria uma entidade inferior. A crença também enxerga Jesus Cristo como um ser espiritual que veio ao mundo para transmitir conhecimentos secretos às almas livres. Por ser divino, ele não teria um corpo físico real, já que o mundo material é inerentemente mau. 

As características do gnosticismo

Para sustentar as suas convicções, o gnosticismo carrega certas visões bem diferentes em relação a outras doutrinas. Entre elas, está a ideia de um dualismo radical entre o que é material (que é essencialmente mau) e o mundo espiritual divino. Isso justifica a concepção da criação do mundo por uma entidade inferior ao Deus supremo, e que seria o responsável pela criação de todo o sofrimento.

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O ser humano, em essência, seria divino, mas estaria atrelado à prisão do mundo material. Para poder se libertar, o caminho não seria apenas a fé, mas o conhecimento que seria obtido pela gnose. Só assim começaria sua ascensão ao mundo superior.

Outra característica interessante é que, para os gnósticos, esse deus inferior, que seria defeituoso, é identificado com o Deus do Antigo Testamento. Isso contrasta com a narrativa presente no livro do Gênesis, uma vez que eles veem a criação do mundo como um ato negativo e não como uma obra da benevolência de Deus.

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Por fim, o gnosticismo apresenta uma rejeição ao corpo físico e às preocupações materiais. Como o corpo é visto como uma prisão que prende a alma, em uma armadilha arquitetada pelo Demiurgo, só seria possível sair desse cárcere por meio do conhecimento da gnose. Isso fez com que algumas seitas gnósticas buscassem promover práticas ascéticas, baseadas em uma entrega individual à vida contemplativa espiritual e à mortificação dos sentidos

Até hoje é possível encontrar grupos de cultuam a gnose, inclusive aqui no Brasil. Para os que creem nessa doutrina, ela representa a única possibilidade de conseguir encontrar uma redenção dos sofrimentos terrenos. Vai saber se não é verdade, não é mesmo?