Estilo de vida
29/10/2024 às 09:00•3 min de leituraAtualizado em 29/10/2024 às 09:00
Quando chega o Halloween, não há decoração mais simbólica do que as abóboras esculpidas iluminadas por dentro. Mas como começou essa tradição de fazer rostos aterrorizantes em frutas e vegetais? As famosas jack-o'-lanterns (nome em inglês para as famosas lanternas de abóboras) têm uma história longa e fascinante, que remonta a antigos mitos celtas e lendas assustadoras.
Lá no passado, os celtas acreditavam que o festival de Samhain, celebrado em 1º de novembro, era o momento em que os mortos caminhavam entre os vivos. Para afastar os espíritos, eles se disfarçavam com fantasias e esculpiam rostos assustadores em vegetais como nabos e beterrabas, o que daria origem à tradição de iluminar o Halloween (Dia das Bruxas) com lanternas.
Apesar da origem celta, a essência do que hoje conhecemos como a “lanterna de abóbora” foi moldada por um folclore específico vindo da Irlanda: a lenda de Stingy Jack. Jack, um personagem malandro e astuto, conseguiu enganar o próprio Diabo não uma, mas duas vezes, prendendo-o em truques engenhosos.
Primeiro, convenceu o Diabo a se transformar em uma moeda para evitar pagar por uma bebida; em seguida, o aprisionou no bolso junto a uma cruz de prata. Em outra ocasião, convenceu o Diabo a subir em uma árvore e cravou uma cruz no tronco, aprisionando-o novamente.
Por seus truques, Jack obteve do Diabo a promessa de que não seria levado ao Inferno. Quando ele morreu, contudo, Jack foi rejeitado tanto pelo Céu quanto pelo Inferno, e ficou condenado a vagar pela Terra eternamente, com apenas uma brasa para iluminar seu caminho, que ele colocou em um nabo oco, criando assim a primeira “jack-o'-lantern”.
Esse mito também ajudava a explicar um fenômeno natural que assombrava os antigos nas Ilhas Britânicas: as luzes tremeluzentes que apareciam sobre pântanos à noite, conhecidas como ignis fatuus ou fogo-fátuo. Essas luzes fantasmagóricas, causadas por gases decompostos, pareciam flutuar e enganar quem as seguia, muitas vezes levando pessoas a se perderem.
Diziam que essas luzes eram Jack, vagando sem descanso com sua lanterna. Com o tempo, para afastar o “Jack da Lanterna” e outros espíritos indesejados, as pessoas começaram a esculpir rostos em vegetais, criando um espetáculo visual que servia de alerta e proteção.
Foi apenas com a imigração em massa dos irlandeses para os Estados Unidos, entre os séculos XIX e XX, que a tradição encontrou seu símbolo definitivo: a abóbora. Nativa da América, a abóbora é grande, fácil de esculpir e se tornou a opção favorita dos irlandeses que chegaram à América.
Rapidamente, as jack-o'-lanterns feitas com abóboras ganharam destaque no Halloween e na cultura americana, especialmente com a ajuda da literatura. Em “A Lenda de Sleepy Hollow”, de Washington Irving, publicada em 1820, uma abóbora aparece na famosa cena do Cavaleiro Sem Cabeça, reforçando o elo entre Halloween e terror.
Autores como Nathaniel Hawthorne também fizeram referências à abóbora em contos populares, como “The Great Carbuncle” (O Grande Carbúnculo) e “Feathertop”. Essa associação literária com o mistério e o medo fez da abóbora esculpida um ícone perfeito para o Halloween.
Hoje, o Halloween é amplamente celebrado nos Estados Unidos e ao redor do mundo, e as jack-o'-lanterns de abóbora são a sua decoração mais clássica, iluminando varandas e quintais com um toque que mistura o assustador ao festivo. Para muitos, essas lanternas são mais do que simples enfeites; representam a união e o espírito de comunidade.
Ver uma casa decorada com uma abóbora na porta é sinal de que ali há festa e doces esperando os pequenos, um convite para que todos participem da diversão. E assim, a antiga lenda de Jack e as luzes dos pântanos que assombravam os viajantes sobreviveram por séculos, tornando-se parte de uma tradição acolhedora e alegre.