Artes/cultura
21/12/2024 às 21:00•2 min de leituraAtualizado em 21/12/2024 às 21:00
Os poderosos imperadores romanos foram capazes de muitas loucuras. Mas no topo das mais tenebrosas, está certamente o banquete oferecido pelo imperador Domiciano em 89 d.C. para um grupo de senadores.
Tudo em torno daquele jantar era lúgubre e assustador. Mas os convidados logo se deram conta de que estava sendo oferecido a eles um evento que normalmente era presenteado aos mortos.
Naquela fatídica noite, o salão de banquete estava pintado de preto do teto ao chão. Na pouca luz que pairava, os senadores foram convidados a verificar seus nomes em uma fileira de lápides colocadas diante das cadeiras na mesa.
Meninos nus pintados de preto vinham servir os homenageados. Só que as bandejas traziam oferendas que costumavam ser oferecidas aos mortos. É claro que, a essa altura, os próprios senadores começaram a se perguntar se logo eles mesmos seriam assassinados.
Domiciano oferecia a eles um banquete romano tradicional, chamado de "memento mori". Assim que o jantar se encerrou, os convidados ficaram esperando o momento em que seriam executados. Até que, pela manhã, o imperador enviou mensageiros para informá-los que as lápides (agora reveladas como sendo feitas de prata maciça), os pratos caros e os meninos escravizados estavam sendo dados a eles como presentes.
De acordo com Dio Cassius, historiador do século III, que é autor do único relato sobre esse jantar, o efeito de tudo isso aos convidados, como se pode imaginar, foi terrível. Durante o banquete, o imperador falava “apenas sobre tópicos relacionados à morte e à matança”. Enquanto isso, cada um dos senadores “temia e tremia e era mantido em constante expectativa de ter sua garganta cortada no momento seguinte”.
Tito Flávio Domiciano foi o terceiro membro de sua família a se tornar imperador de Roma. Ele ficou conhecido pela sua crueldade, e relatos especulam que ele tenha assassinado seu próprio irmão mais velho, Tito.
Ainda assim, há dúvidas se realmente o relato sobre o "banquete negro" oferecido pelo imperador é real ou apenas uma lenda. O que se afirma é que Domiciano poderia estar promovendo a longa tradição do “memento mori”, que consistia em jantares funestos que eram relativamente comuns. Nessas ocasiões, os convidados eram lembrados de aproveitar todos os momentos, já que a vida poderia se encerrar a qualquer momento. Eles ainda recebiam de presente o Larva convivalis, que eram pequenos esqueletos de bronze feitos com membros articulados.
Aparentemente, tudo apenas se tratava de uma brincadeira (de mau gosto, vale dizer). Mas o fato é que Domiciano poderia bem mandar matar os seus convidados, uma vez que eram atribuídas a ele várias mortes. Outra possibilidade é que ele estivesse agindo assim por se sentir ameaçado pelos senadores.
Entretanto, Domiciano não foi o único imperador a aterrorizar seus convidados. De acordo com Sêneca, Calígula ordenou a execução de um jovem e depois convidou o pai do homem para jantar no mesmo dia. O homem conversou e brincou com o imperador, pois sabia que, se mostrasse o menor sinal de tristeza, Calígula ordenaria a morte de seu outro filho.
Há ainda o imperador Heliogábalo, que também apreciava brincadeiras macabras. Ele oferecia a seus convidados travessas de comida falsa feitas de cera, madeira ou mármore, enquanto ele mesmo devorava iguarias de verdade. Eventualmente, o imperador servia a seus convidados pinturas de refeições ou guardanapos bordados com imagens da comida que ele estava comendo.
Para piorar, Heliogábalo às vezes mandava soltar leões e leopardos entre os seus convidados. Sem saber que os animais eram domesticados, os presentes ficavam apavorados, o que fazia Heliogábalo se regozijar de prazer. Com certeza, receber um convite de um imperador não era nada legal, mas certamente não havia como recusar.