Por que nunca houve um "Tribunal de Nuremberg" na Itália?

10/10/2024 às 03:003 min de leituraAtualizado em 10/10/2024 às 03:00

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, ocorreram uma série de tribunais militares contra os membros da liderança política, militar e econômica da Alemanha Nazista. Os chamados julgamentos de Nuremberg resultaram em 200 sentenças de morte e 279 condenações a prisão perpétua. 

Julgamentos semelhantes foram conduzidos em Tóquio, entre 1946 e 1948, e levaram à justiça 28 réus da liderança militarista do Japão Imperial – a família imperial, em si, foi absolvida de ter cometido qualquer delito.

Todos esses julgamentos foram promovidos pelo conjunto de nações chamado de Aliados, que se sagraram vencedores no conflito. Por isso, uma pergunta pertinente que poderia ser feita é esta: por que o terceiro membro desse Eixo – a Itália – foi esquecido por essas punições?

Os crimes de guerra cometidos pelos italianos

(Fonte: GettyImages / Reprodução)
As tropas italianas cometeram crimes tendo como base o governo fascista de Mussolini. (Fonte: GettyImages / Reprodução)

Nem sempre isso é ventilado pelos relatos históricos com tanta veemência, mas as forças armadas italianas, as forças de segurança e as milícias fascistas cometeram atrocidades comparáveis às de seus aliados do Eixo, como Japão e Alemanha. No entanto, nunca houve uma "Nuremberg italiana".

Entender isso pressupõe também compreender o alcance do fascismo italiano. Ainda que não tenha estabelecido políticas para eliminar radicalmente grupos étnicos ou religiosos considerados "indesejáveis" (como o nazismo), o regime de Benito Mussolini buscou apoiar políticas nacionalistas e expansionistas agressivas.

Depois da entrada na Segunda Guerra Mundial, as tropas italianas participaram da invasão de diversos territórios na França, Grécia, Iugoslávia, Leste e Norte da África, além da União Soviética. E em todos esses lugares, cometeram crimes de guerra contra combatentes e civis. Na Líbia, por exemplo, suas ações vitimaram cerca de 83.000 pessoas.

Os Aliados sempre observaram essas atrocidades cometidas pelos italianos, e consideravam os fascistas tão criminosos quanto seus colegas alemães e japoneses. Tanto que, em 1942, representantes de 18 governos aliados realizaram uma Conferência Interaliada sobre a Punição de Crimes de Guerra, e assinaram uma declaração prometendo investigar e julgar essas nações. Isso incluía, claro, a Itália.

Como a Itália evitou os julgamentos

x
Uma série de fatores fez com as tropas italianas não fossem punidas com a mesma intensidade. (Fonte: GettyImages / Reprodução)

Em outubro de 1943, a liderança aliada criou a Comissão de Crimes de Guerra das Nações Unidas, um órgão independente para investigar evidências de crimes de guerra. Um mês depois, líderes das nações aliadas adotaram a "Declaração de Moscou", na qual concordavam que os criminosos de guerra italianos tinham que ser punidos. Neste meio tempo, 1.200 cidadãos italianos foram considerados suspeitos de crimes de guerra.

As razões pelas quais eles não passaram pelos mesmos tribunais são complexas. Uma delas envolve o ato do armistício italiano de 8 de setembro de 1943, com o qual o governo italiano se rendia aos Aliados e continuava a guerra contra o Eixo como um exército ao lado da Grã-Bretanha, dos EUA e de outras forças aliadas. Ou seja, houve uma troca de lados.

Além disso, a dissidência contra Mussolini cresceu muito dentro das forças armadas, levando a uma moção para que se destituísse o ditador, entregando o poder ao Rei Vitor Emanuel III de Saboia. Como houve maioria na votação, o rei mandou prender o Duce.

Em seguida, Vitor Emanuel nomeou o Marechal de Campo Badoglio como primeiro-ministro, embora ele mesmo pudesse ser responsabilizado por vários crimes de guerra. Aí, um representante de Badoglio assinou um armistício secreto com o general americano Walter Bedell Smith, retirando a Itália do pacto do Eixo.

Quando Mussolini foi solto por paraquedistas alemães, acabou sendo reintegrado como chefe de um novo estado chamado de República Social Italiana, dividindo o país. Ou seja, a Itália estava às beiras de uma guerra civil – colocando de lados diferentes a República Social Italiana, as forças alemãs, os Aliados e as tropas italianas que repudiavam o fascismo.

Isso trouxe uma enorme bagunça: caso houvesse um tribunal de crimes de guerra, um possível governo italiano do pós-guerra poderia ter desempenhado o papel de réu e vítima. Por fim, Badoglio e o general americano Eisenhower assinaram um segundo acordo chamado "Instrumento de Rendição", o que obrigava o novo governo italiano a entregar para as Nações Unidas Benito Mussolini e seus asseclas.

 Assim, acordou-se em uma decisão que todas as forças aliadas não deveriam prender qualquer suspeito de crime de guerra na Itália. Desse modo, criminosos terríveis acabaram escapando de consequências piores.

NOSSOS SITES

  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • Logo Mega Curioso
  • Logo Baixaki
  • Logo Click Jogos
  • Logo TecMundo

Pesquisas anteriores: