Quais são os principais sotaques do Brasil?

16/08/2024 às 15:003 min de leituraAtualizado em 16/08/2024 às 15:00

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Em maio de 2024, a jornalista estadunidense Courtney Henning Novak gravou um vídeo em seu TikTok elogiando a obra Memórias póstumas de Brás Cubas, do escritor brasileiro Machado de Assis. A crítica não apenas viralizou, como despertou outra cascata de conteúdos. Um deles, que também circulou rapidamente, foi o da influencer Baueny Barroco, lendo o início da obra em sotaque carioca carregado: "ao verme que primeiro roueu ax friax carnex do meu cadaavearrr...".

A polêmica toda convidou a uma pergunta interessante: como era o sotaque do membro fundador da Academia Brasileira de Letras, que ocupava a cadeira 23 da entidade? Será que ele falava "carregado"? Afinal, só se tem acesso hoje ao que ele escreveu e a dimensão escrita não corresponde à totalidade do fenômeno linguístico.

Conheça mais sobre os sotaques brasileiros e as principais variações linguísticas do português falado em todo o território nacional. Escolhemos cinco dialetos e seus modos de falar. Confira!

Sotaque paulistano

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Da recepção aos imigrantes à concentração atual do setor financeiro na cidade, a urbanização da capital paulista deixou impressões na oralidade. (Fonte: Pexels)

Um dos sotaques mais conhecidos é o do paulistano. Quem vive na maior cidade da América Latina é conhecido por falar "meu", "mano", "véi" e outras gírias em um tom bem particular.

São Paulo é uma cidade plural. Sendo o destino de diferentes grupos, em um fluxo migratório bastante diversificado, a língua cotidiana da capital convive com toda essa heterogeneidade. Então, o sotaque de lá é um amálgama. Não existe um jeito único de falar em "paulistanês", mas vários deles.

A vida imita a arte, certo? Então, dois personagens podem ajudar a exemplificar essa mistura. Um deles é o motoboy Jackson Faive, do humorista Marco Luque. Outra é a Amanda (ou Ameeeinda), da youtuber Jessica Diniz, que lembra mais o pessoal da Faria Lima.

Sotaque carioca

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Por abrigar a Corte a partir de 1808, o Rio de Janeiro sofreu uma influência importante da cultura portuguesa. (Fonte: Pexels)

Já no Rio de Janeiro, quem dá o tom do sotaque é o chiado e a inserção de vogais expressivas na dicção. Por exemplo, a frase "Ele nasceu na Rua da Paz" poderia ser lida em "fluminensês", ou em "carioquês", como eile naisceu na ruúa da paaiix.

Se o velho Machado de Assis falava assim, é difícil saber. Não há gravações da sua voz disponíveis. Mas tudo indica que ele carregava, sim, no sotaque, do jeitinho que o meme ironiza. Por influência do português lusitano, cuja pronúncia era ainda mais corrente na virada do século XIX para o XX, é provável que Machado “chiasse”.

Com algumas adaptações próprias do processo de interação social das últimas décadas, o português fluminense amenizou seus traços mais marcantes. Mas esse sotaque ainda é presente, e chega na casa de milhões de pessoas todos os dias por meio da televisão.

Sotaque caipira

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A falta de interação com os centros urbanos mais dinâmicos permitiu que o sotaque interiorano no Brasil preservasse suas características. (Fonte: Pexels)

Se as cidades se revolucionaram nos últimos cem anos, o interior vivenciou essas transformações em ritmo mais lento. Em parte, por isso, o sotaque do interior é uma grande variação que convive com subdialetos, como o goiano, o mineiro, o paulista e diversos outros.

Uma marca do sotaque caipira, amplamente usado na região rural, é o uso do R: porrrta, porrrteira, porrrtão. Em alguns casos, usa-se o R "seco", como em Minas; em outro, fala-se o R "molhado". Também faz parte desse uso da língua a supressão de letras, ou mesmo a abreviação da pronúncia das palavras. "Manuel é filho do Antonio" poderia ser expresso oralmente como "Mané é fi do Toin", por exemplo.

Essas características são próprias da oralização e de uma relativa independência à língua formal. Até 1940, mais de 50% dos brasileiros eram analfabetos, e esse contingente era maior justamente no interior do país.

Sotaque nordestino

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A riqueza cultural do Nordeste se espelha nas diferentes oralidades que os brasileiros da região construíram. (Fonte: Pexels)

Não existe um sotaque nordestino, mas vários deles. Trata-se de um conjunto de dialetos que, assim como nos demais casos, expressam uma interação singular em relação à composição social da região, os grupos que interagem, os dispositivos culturais e vários outros elementos.

As principais matrizes do sotaque nordestino vêm da Bahia e de Pernambuco, porque esses foram os estados com maior fluxo migratório a partir do século XVI. Mas mesmo entre eles há bastante diferença, a começar pelo ritmo. Os baianos falam de modo mais lento, enquanto os pernambucanos articulam a oralidade de modo mais rápido.

Além disso, as gírias também são heterogêneas. Se um baiano estiver bravo com você, ele poderia dizer "tô na bruxa!"; já um pernambucano poderia xingá-lo de “alma sebosa”. Melhor não se indispor com eles, hein!

Sotaque gaúcho

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A proximidade com a influência uruguaia e argentina criou tradições marcantes no Rio Grande do Sul, inclusive no aspecto linguístico. (Fonte: Pexels)

"Escuto o grito do sorro e lá do piquete relincha o potro tordilho, na boca da noite me aparece um zorrilho…". Sim, isso é português brasileiro. A música “Fundo da grota”, do cantor Baitaca, também viralizou por expressar uma variante muito singular, que se manifesta no vocabulário, nas escolhas gramaticais da formação das frases e também no modo de oralizar a língua.

A influência do castelhano, variante popular do espanhol falada na região dos Pampas, está entre as principais razões para que o português que se expressa hoje no Rio Grande do Sul tenha ganhado essa dinâmica. Outro fator foi o relativo isolamento geográfico. Mais distantes e sem contar com uma rede logística de qualidade, os gaúchos criaram uma cultura única, que não se confunde com outros locais do país.

“Bá! Tri legal, né, gurizada?” Bem, agora que você conhece mais sobre as variações orais do português, uma dica final: é importante ficar de olho em como isso cai no Exame Nacional do Ensino Médio. A prova costuma valorizar a pluralidade linguística, mesmo quando ela não coincide com o português formal. Então, cuidado com o preconceito linguístico!

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