Qual será o futuro da linguagem humana?

07/10/2024 às 21:002 min de leituraAtualizado em 07/10/2024 às 21:00

Hoje convivemos com muitas inovações tecnológicas que causam efeitos nas nossas formas de comunicação. Podemos pensar nas interfaces cérebro-computador, na inteligência artificial (IA), nos chatbots, nas mensagens de texto com preenchimento automático. Tudo isso pode estar modificando a linguagem tal qual a conhecemos.

Mas quão profundas serão essas mudanças – e quais são elas? Muitos linguistas estão se debruçando sobre essas questões. O professor Philip Seargeant é um deles. Em seu livro recém lançado, chamado The Future of Language, ele reflete sobre como as mudanças podem estar criando (ou até extinguindo) a nossa linguagem falada.

Para onde vai a nossa comunicação?

(Fonte: GettyImages / Reprodução)
A linguagem possibilita que os humanos deem forma e nome às coisas que os cercam. (Fonte: GettyImages / Reprodução)

Para começar, é preciso definir o que se entende por linguagem. Alvo de estudo em várias áreas, que vão da linguística à psicanálise, a linguagem pode ser compreendida como um sistema estruturado de comunicação que envolve a gramática (as regras) e o vocabulário (as palavras usadas para sustentar nossas ideias).

É por meio dela que transmitimos os nossos significados e as formas pelas quais compreendemos o mundo. Com ela atendemos nossas necessidades mais básicas (como alguém que comunica que está com fome), mas também tentamos dar forma aos nossos sentimentos mais complexos.

Philip Seargeant explica que a linguagem vai muito além de transmitir uma mensagem para alguém. "Claro, é um meio de transmitir informações de uma pessoa para outra, mas isso é realmente apenas uma parte dela. A linguagem está ligada à maneira como organizamos a sociedade e nossos relacionamentos, como apresentamos nossa identidade e como entendemos as identidades de outras pessoas", afirmou ao portal Live Science.

Por isso, é preciso ter em mente que linguagem vai além da transmissão de dados. Por isso, quando as tecnologias entram nessa conta, as mudanças são bastante profundas.

O futuro da linguagem e das tecnologias de comunicação

O linguista Philip Seargeant, autor de The Future of Languagem. (Fonte: Philip Seargeant / Divulgação)
O linguista Philip Seargeant, autor de The Future of Language. (Fonte: Philip Seargeant / Divulgação)

Em The Future of Language, Philip Seargeant retoma o mito da Torre de Babel, a história bíblica que fala que um grupo de pessoas falantes da mesma língua resolve construir uma torre para chegar ao céu. Irritado com a arrogância dos humanos, Deus confundiu a língua deles para que não mais se entendessem. Isso teria levado à criação das diferentes línguas que se espalharam pelo mundo.

De acordo com Seargeant, a inteligência artificial apareceria como uma espécie de derrocada desse mito, que enxerga a diversidade linguística como algo ruim. "Parece que estamos em um ponto em que as tecnologias permitirão em breve a tradução instantânea e em tempo real entre grandes idiomas (pelo menos aqueles para os quais temos dados suficientes). A qualidade dessa tradução é muito boa; é muito funcional", explica.

Mas é importante alertar que a IA não tira a função primordial da linguagem humana, que se baseia em seu dinamismo e flexibilidade – ou seja, sua capacidade de estar sempre mudando. Por isso, Seargeant discorda da posição de magnatas da tecnologia, como Elon Musk, que sugerem que as interfaces cérebro-computador poderão em breve ignorar completamente a linguagem falada ou até gerar um futuro sem palavras.

"Acho que é apenas um pensamento falho. Será interessante ver o que acontece se isso se tornar popular e se encaixar na forma como nos comunicamos agora, mas parece que ainda está muito longe. Agora mesmo, as pessoas conseguem digitar coisas em um teclado usando suas ondas cerebrais muito lentamente", afirma.

O linguista opina que, mesmo que um dia isso aconteça, e consigamos comandar máquinas por meio do pensamento, provavelmente isso não vai substituir a importância da linguagem. "A linguagem não é apenas sobre transferência de informações; a voz é parte integrante de grandes aspectos de nossas vidas. Veja o canto, por exemplo — como você vai fazer isso telepaticamente? Todo o aspecto de criatividade e identidade da linguagem não parece se encaixar nesse modelo", conclui.

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