Estilo de vida
05/08/2018 às 07:04•2 min de leitura
De vez em quando, a discussão sobre nióbio volta a público como uma possível salvação para a economia brasileira. Isso aconteceu na década de 1990, com o ex-candidato a Presidente da República e deputado federal Enéas Carneiro, e voltou atualmente com o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), um dos presidenciáveis mais bem colocados em pesquisas de opinião.
O argumento apresentado para colocar o nióbio como esperança de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro costuma ser o fato de o país ter as maiores reservas do metal no mundo e vendê-lo muito barato. O raciocínio continua ao dizer que, como o Brasil é o maior exportador mundial de nióbio, poderia subir os preços, pois os outros países seriam obrigados a aceitar.
Então, estamos sendo enganados todo esse tempo ao pensar em petróleo e pré-sal como grandes geradores de riquezas quando deveríamos nos concentrar na exploração do nióbio? O contexto é um pouco mais complicado que isso.
De fato, o Brasil tem 98% das reservas de nióbio atualmente conhecidas no mundo, presentes no Amazonas, em Goiás e em Minas Gerais. De acordo com o Plano Nacional de Mineração 2030, publicado pelo Ministério de Minas e Energia em 2011, o Brasil responde por 98% da produção mundial desse metal.
Quando a primeira reserva de nióbio foi descoberta no Brasil, nos anos 1960, sua aplicação ainda não era conhecida. Atualmente, ele é utilizado para tornar ligas metálicas, como o aço, mais fortes e maleáveis. Basta uma pequena quantidade de nióbio (entre 25 e 100 gramas para cada tonelada de aço) para que ele cumpra sua função.
Além disso, o metal é empregado no ramo de alta tecnologia. A SpaceX, por exemplo, usa liga de nióbio em um de seus motores de foguete. Ele ainda é indispensável para produzir fios supercondutores, que compõem equipamentos como máquinas de ressonância magnética.
Fica claro, portanto, que o nióbio é uma matéria-prima essencial para produtos variados, incluindo aqueles de alto valor tecnológico. Temos, então, um metal raro e com aplicações importantes na indústria.
O primeiro problema é que o nióbio é substituível por outros metais. Caso o Brasil passe a cobrar um valor que o mercado internacional não esteja disposto a pagar, é possível trocá-lo por vanádio ou titânio, cujas reservas estão presentes em outros países.
Outro ponto é que a indústria mundial não tem necessidade de utilizar mais nióbio, pois poucas quantidades do metal são suficientes para que ele cumpra sua função. Assim, colocar mais nióbio no mercado resultaria em queda do preço, já que não há mais aumento da demanda.
Outro limitador é que o Brasil não exporta produtos derivados do nióbio. “Nós repetimos nosso velho ciclo: vendemos matéria-prima e compramos produtos prontos. Vendemos nióbio e compramos fios de tomógrafos, por exemplo”, explica o pesquisador Leandro Tessler, do Instituto de Física da Unicamp, em entrevista à revista Super Interessante.
O grande gargalo, portanto, não é o preço cobrado pelo nióbio. É o fato de a indústria brasileira não ter tecnologia para produzir mercadorias de alto valor agregado a partir do metal.
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