
Ciência
10/03/2025 às 10:45•2 min de leituraAtualizado em 10/03/2025 às 10:45
As emoções que sentimos parecem razoavelmente claras para nós, assim como os lugares em que elas seriam "geradas". Para nós, o pensamento sóbrio e racional vem do cérebro, o nervosismo se manifesta no estômago, a raiva tem a ver com o fígado e o amor nasce no coração.
Mas será que se acreditava nisso nas culturas antigas? Agora, tábulas recém encontradas mostram que os mesopotâmicos pensavam de modo diferente.
O mapeamento das emoções no corpo é um tema que há tempos interessa aos historiadores e antropólogos. Pesquisas pregressas documentaram que essas associações entre sentimentos e órgãos do corpo eram relativamente compartilhadas entre as culturas: diferentes povos liam suas sensações de forma semelhante.
Acontece que essas percepções eram sempre captadas por meio de autorrelatos – ou seja, um método que consiste que os participantes cedam informações sobre si mesmos voluntariamente. O problema é que essa metodologia acaba compreendendo apenas entrevistas com pessoas que ainda estão por aqui. Por isso, não se tinha muita noção de como isso se dava em culturas muito antigas.
Em um novo estudo multidisciplinar, pesquisadores analisaram um grande corpo de textos para ver se os povos antigos no que era a Mesopotâmia (que hoje compreende a região do Iraque moderno) vivenciavam emoções em seus corpos. Isso for feito por meio da análise de um milhão de palavras registradas em tábulas cuneiformes pertencentes à antiga língua acádia de 934–612 a.C.
"Mesmo na antiga Mesopotâmia, havia uma compreensão aproximada da anatomia, por exemplo, da importância do coração, do fígado e dos pulmões", explicou o professor Saana Svärd, da Universidade de Helsinque, que participou do estudo. Mas a surpresa é que os sentimentos não apareciam nos mesmos órgãos que hoje percebemos.
Os mesopotâmicos tinham experiências corporais parecidas com as nossas, mas a curiosidade estava justamente nas diferenças. Sentimentos de felicidade eram associados a palavras como “aberto”, “brilhante” ou estar “cheio”. Mas o estranho é que essa emoção não era localizada no coração, e sim no fígado.
A raiva e o amor também inspiravam sensações diferentes. Quando estavam raivosos, os antigos mesopotâmicos sentiam-se "aquecidos", "enfurecidos" ou "bravos" nos pés. Da mesma forma, os neoassírios associavam o amor mais ao fígado, ao coração e até aos joelhos.
"Resta saber se podemos dizer algo no futuro sobre que tipo de experiências emocionais são típicas para humanos em geral e se, por exemplo, o medo sempre foi sentido nas mesmas partes do corpo. Além disso, temos que ter em mente que textos são textos e emoções são vividas e experimentadas", acrescentou Svärd.
Os pesquisadores ainda alertam que é preciso ter cuidado na hora de fazer comparações, já que as civilizações antigas eram muito diferentes das atuais. Como as taxas de alfabetização eram baixas, deve-se também ter noção que um número limitado de pessoas podia escrever em tábulas de argila. Ainda assim, as constatações são interessantes para que as pesquisas em torno desse tema sigam sendo desenvolvidas. "Pode ser uma maneira útil de explorar diferenças interculturais na maneira como vivenciamos as emoções", finalizou Svärd.