
Ciência
22/08/2018 às 12:00•3 min de leitura
Sabemos que o Brasil, especialmente quando comparado aos Estados Unidos e à antiga União Soviética, está anos-luz distante de ter um programa de exploração espacial profícuo. Poucas vezes nosso país se aventurou a desenvolver tecnologia espacial de ponta ou mesmo tentar lançar dispositivos para o espaço, obviamente por falta de interesse e recursos, e não de capacidade humana.
Apesar disso, o Brasil iniciou um programa espacial moderno em 1956, dois anos antes da fundação da NASA, com a criação de uma base de rastreio em Fernando de Noronha que serviria para “vigiar” as transmissões a partir dos foguetes que decolavam da estação no Cabo Canaveral, de onde a grande maioria dos foguetes da agência espacial norte-americana vieram a decolar e ainda o fazem até hoje.
Imagem aérea do Centro de Lançamento de Alcântara
Após quase 30 decolagens feitas da base de lançamento de Alcântara, um terrível acidente com o foguete VLS-1 XV-03 da missão SATEC deixou 21 mortos
O programa espacial brasileiro teve altos (não muito altos) e baixos durante as décadas de 1960, 1970 e 1980, mas entrou no decênio de 1990 com empolgação: a AEB, Agência Espacial Brasileira, começou a realizar diversas decolagens a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, a 32 quilômetros de São Luís, capital do estado do Maranhão. Sua latitude, por ser próxima à Linha do Equador, diminui o consumo de combustível das naves que partem de lá.
O Centro de Lançamento de Alcântara foi inaugurado em 1º de março de 1983 e serviu como substituto para o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, no Rio Grande do Norte. Após quase 30 decolagens feitas da base de lançamento de Alcântara, um terrível acidente com o foguete VLS-1 XV-03 da missão SATEC deixou 21 mortos, todos funcionários do Centro Técnico Espacial (CTA) de São José dos Campos, no estado de São Paulo.
A explosão da base de lançamento com o foguete em Alcântara
Um incêndio seguido por uma explosão foi causado pela ignição acidental de um dos quatro motores do foguete brasileiro, conforme relatou o ministro da Defesa na época, José Viegas. O acidente aconteceu três dias antes da data prevista para a decolagem da missão, 22 de agosto de 2003, e pode ser rapidamente visto por quatro câmeras que monitoravam cada um dos andares da base de lançamento.
O fogo se alastrou a partir da base do veículo e em segundos tomou todo o foguete, chegando até sua extremidade superior onde estava o satélite que seria colocado em órbita. Câmeras externas também mostram a tragédia: é possível ver a explosão da base onde o veículo estava armazenado pouco depois das 13h26.
Câmeras de segurança mostram o foguete segundos antes da explosão
O objetivo da missão – também chamada de Operação São Luís – era colocar em órbita circular equatorial os satélites meteorológicos SATEC, do INPE, e o UNOSAT, da Universidade do Norte do Paraná.
O detalhe da câmera 2 mostra o fogo subindo pelos andares da plataforma
Segundo o tenente-brigadeiro Astor Nina de Carvalho, comandante do Centro de Lançamento de Alcântara, a tragédia com o VLS-1 começou com o incêndio causado pela ignição acidental do motor que se alastrou em velocidade impressionante, chegando a temperaturas de 3 mil graus Celsius, que derrubou a torre de lançamento sobre o foguete e causou a explosão. A plataforma onde os 21 técnicos do CTA da Aeronáutica trabalhavam também ruiu, levando todos a óbito imediatamente.
Algumas pessoas mais 'criativas' chegam a cogitar a possibilidade de terrorismo, sabotagem, especialmente por parte dos Estados Unidos
Muitas investigações foram feitas no local do acidente para determinar as causas do incêndio e encontrar culpados pelas mortes. As famílias dos técnicos até hoje lamentam o ocorrido e sentem o esquecimento público do caso e a negligência do governo no que diz respeito ao amparo que deveriam receber após a perda de entes queridos.
Algumas pessoas mais “criativas” chegam a cogitar a possibilidade de terrorismo, sabotagem, especialmente por parte dos Estados Unidos, que teriam propositalmente causado o acidente para evitar que outros países entrassem no ramo da exploração espacial — área que os norte-americanos têm dominado após o fim da União Soviética —, como se a exploração espacial brasileira ameaçasse a hegemonia do Tio Sam.
Destroços da base após o acidente
No século XXI, o Centro de Lançamento de Alcântara continuou funcionando, tendo, em 2010, colocado em órbita com sucesso um foguete de médio porte, o VSB-30, que realizou testes em microgravidade e conseguiu retornar a salvo para a Terra. Da mesma base também saiu o primeiro foguete de propulsão líquida do Brasil, em 2014.
Torcemos para que esse acidente, pelo menos, tenha ajudado os responsáveis pelo desenvolvimento de tecnologia espacial no Brasil a entender melhor o funcionamento de seus dispositivos, para que isso não torne a acontecer e vitimar fatalmente funcionários envolvidos nessas missões.
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