Poluição plástica está afetando até ovos de aves marinhas do Ártico

25/02/2019 às 02:302 min de leitura

A contaminação por plástico chegou a uma das áreas mais inóspitas e pouco habitadas do mundo. Em ovos de aves marinhas no Ártico Canadense, foi encontrado ftalato, um grupo de compostos químicos utilizados na indústria química, conhecidos por serem disruptores endócrinos, segundo reportagem do jornal britânico The Times

Cientistas do Serviço de Vida Selvagem Canadense explicaram em uma reunião da Associação Americana para Avanços da Ciência que a poluição marítima pode ser a culpada. A teoria é de que animais marinhos, como peixes, camarões e lulas, que ingeriram restos plásticos foram subsequentemente ingeridos pelas aves.

Reprodução/Manuel Marin

A espécie Fulmar-Glacial, na qual a ocorrência foi identificada, tem um fluido oleoso no estômago, que projeta quando se sente ameaçada. Os estudiosos acreditam que os químicos se misturaram a esse fluido e adentraram a corrente sanguínea dos animais, indo parar na formação de novos ovos.

O ftalato foi encontrado na gema do ovo, que serve de alimento durante o desenvolvimento dos filhotes. “É realmente trágico. A ave, desde o início de seu desenvolvimento, terá aqueles contaminantes dentro dela”, disse a Dra. Jennifer Provencher para o jornal The Guardian

Problemas hormonais

O ftalato pode causar alterações hormonais e já foi ligado a doenças metabólicas, problemas de fertilidade e defeitos de nascimento em seres humanos. A exposição de longo prazo a produtos com esse químico pode ter efeito cumulativo, por isso foi proibido o seu uso na fabricação de artigos para crianças, como brinquedos.

Os cientistas ainda não sabem se os mesmos efeitos observados em humanos podem ocorrer nas aves; para isso, serão necessários mais estudos. Os pesquisadores querem analisar outras espécies de aves que estão em áreas mais suscetíveis ao consumo de restos plásticos. “Precisamos observar se eles têm os mesmos químicos, níveis mais altos desses químicos ou químicos adicionais. A consciência de que pelo menos alguns desses contaminantes estão chegando aos ovos abre as portas para essas e outras questões que devemos estudar em áreas com maior concentração de plásticos”, afirma Provencher.

Mesmo que os estudos não encontrem efeitos similares nas aves, a descoberta de ftalato em ovos serve de alerta, segundo Alex Bond, biólogo especializado em conservação: “Isso pode não ser o suficiente para resultar em mortalidade, mas certamente não é algo positivo, ainda mais combinado com as pressões de outros contaminantes, pois contribui para as grandes ameaças que as aves marinhas encontram".

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