Ciência
25/09/2019 às 06:00•2 min de leitura
Quem visita o Museu da História da China em Pequim se depara com o que parece ser um caldeirão ornamentado com dragões e cercado de sapos, todos de boca aberta. O exótico objeto, considerado o primeiro sismoscópio da história, foi projetado há mais de 1.800 anos por aquele que pode ser considerado um precursor de Leonardo da Vinci: o poeta, escritor, astrônomo, matemático, cientista, cartógrafo, geógrafo, engenheiro, físico e inventor chinês Zhang Heng.
Ele apresentou seu dispositivo à corte imperial na capital de Luoyang, em 132 dC. O dispositivo consistia em um gigantesco vaso de bronze com cerca de dois metros de diâmetro; a adorná-lo, oito dragões rastejantes. Acredita-se que, dentro do corpo oco do sismoscópio, havia um pêndulo flanqueado por mecanismos de alavanca conectados a cada um dos dragões. As ondas de choque de um terremoto levariam o pêndulo a balançar, ativando o mecanismo interno.
O dragão correspondente, então, soltaria sua bola diretamente dentro da boca do sapo à sua frente, informando à corte que não apenas ocorrera um terremoto, mas de qual direção viriam os tremores. Cada par de dragão e seu sapo correspondente estava relacionado a um ponto da bússola, para que o governo soubesse para onde enviar ajuda.
Em 138 d.C., segundo relatos da época, quando se ouviu o som de uma bola caindo na boca de um sapo, muitos no palácio real duvidaram que o dispositivo pudesse realmente fazer o que prometia. Dias depois, um mensageiro chegou com a notícia de que a região onde hoje se encontra a província de Gansu tinha sido sacudida por um grande tremor de terra – exatamente a direção para a qual apontava o dragão que cuspira sua bola.
Embora existam documentos explicando parcialmente o funcionamento do sismoscópio, o original jamais foi encontrado. Por isso, seu mecanismo interno ainda é alvo de debates. Em 2006, sete cientistas em sismologia, arqueologia e engenharia mecânica da Academia Chinesa de Ciências, do Museu Nacional e da Administração de Terremotos da China replicaram o sismoscópio de Heng para detectar terremotos simulados (foram usados registros das ondas de choque de sismos ocorridos na China e no Vietnã). Os resultados surpreenderam: o mecanismo detectou todos.
Reconstruções têm sido feitas desde 1875. Nenhuma das réplicas conseguiu detectar um terremoto não simulado – nem mesmo o modelo atualmente conhecido, recriado pelo pesquisador chinês Wang Zhenduo em 1951.
A fama e a onipresença desse modelo (até em museus) preocupam os sismólogos, principalmente porque ele não foi capaz nem de detectar o terremoto de 1976 que matou 250 mil pessoas e deixou feridas outras 800 mil, entre civis e equipes de resgate, na cidade de Tangshan. Agora, eles tentam convencer o governo a remover sua imagem dos livros escolares.