Ciência
18/06/2020 às 02:30•2 min de leitura
Uma nova experimentação de edição genética usando a técnica CRISPR, cientistas chegaram a resultados assustadores. Edições em embriões de 14 dias de maturação tiveram consequências indesejáveis e podem até levar a deficiências durante o parto e câncer em idades mais avançadas.
O experimento utilizou 25 embriões humanos — sete deles sem qualquer edição, servindo como grupo de controle. O grupo de cientistas — liderado por Kathy Niakan e composto por outros estudiosos do Instituto Francis Crick — tentou editar o gene POU5F1, uma proteína envolvida na auto-renovação de células tronco embrionárias indiferenciadas. Entretanto, o resultado da aplicação do CRISPR teve consequências não esperadas e que podem prejudicar a saúde durante seu desenvolvimento ou câncer quando mais velho.
“Edições genéticas não desejadas surgiram em aproximadamente 22% das células embrionárias analisadas”, afirma o relatório. Em uma analogia, CRISPR pode ser comparada a uma grande faca, ao invés de “tesouras moleculares”, já que sua aplicação desencadeia um “efeito dominó” sobre o desenvolvimento do embrião.
Todos os embriões estudados e modificados — até mesmo o grupo de controle — foram descartados após o experimento. Por fim, o grupo espera que esse resultado sirva como aviso para possíveis consequências em bebês modificados através do CRISPR.
Para os cientistas, levar edições genéticas aos seres humanos é a tentativa de garantir o surgimento de pessoas mais saudáveis e menos propensas a ao desenvolvimento de deficiências durante o desenvolvimento e após o nascimento.
Contudo, as pesquisas relacionadas estão constantemente em discussão. Críticos da área avaliam esse tipo de experimentação como “brincar com fogo”, podendo gerar consequências ainda não conhecidas e nunca previstas. Além disso, esse tipo de tecnologia também sofre críticas éticas: a ideia de pais poderem comprar genes de outros humanos para criação de filhos mais saudáveis ou com outras características é um risco evidente. Em um cenário hipotético onde há controle e segurança na edição genética, a humanidade poderia caminhar para a criação de crianças de uma etnia única.
A edição genética não é novidade e está em discussão na comunidade científica desde a última década. Em 2018, He Jiankui — cientista chinês — afirmou ter aplicado CRISPR para tornar dois irmãos gêmeos imunes ao HIV. Esse experimento foi fortemente rechaçado pela comunidade científica e acabou sendo batizada como o “os bebês CRISPR”.
Ambas nasceram aparentemente saudáveis, mas a atual condição delas é um mistério. Posteriormente, em dezembro de 2019, Jiankui confirmou que outra criança editada através do CRISPR nasceu.
Na Rússia, o biólogo Denis Rebrikov defendeu a edição embrionária em uma entrevista para o Nature. Em seu argumento, o CRISPR poderia ser um grande aliado para evitar o nascimento de crianças surdas. Segundo ele, cinco famílias russas já se voluntariaram para ter seus respectivos embriões editados.
Até o momento, todas essas pesquisas são totalmente experimentais e essa tecnologia está distante do público. É provável que a aplicação de CRISPR não seja autorizada até o fim do debate científico sobre a ética dessa técnica e em quais casos deve ser utilizada.
CRISPR pode gerar consequências graves em embriões, indica estudo via TecMundo