Estilo de vida
30/09/2020 às 03:00•2 min de leitura
Nós, humanos, falamos em vários idiomas e, dentro de cada um deles, há vários dialetos e sotaques. Inclusive, já se sabe que outras espécies, como os gatos e cachorros, latem e miam de jeitos diferentes, dependendo do local onde vivem. Mas, agora, uma equipe de cientistas descobriu que esse tipo de diferença também acontece com os pássaros. E mais: os dialetos deles têm a ver com os sons que asas fazem quando batem.
Pois é! Quem chegou a essa conclusão foram os biólogos Valentina Gómez-Bahamón e Christopher Clark, do Field Museum de Chicago (EUA), em uma pesquisa feita com pássaros da espécie Tyrannus savana, conhecido popularmente como tesoureiro ou tesourinha-do-campo. Os resultados foram publicados no jornal científico Integrative and Comparative Biology, em setembro de 2020.
Um dos desafios da pesquisa foi descobrir se os sons realmente eram produzidos pelas asas ou eram vocalizações, como o canto dos pássaros. Mas gravações com câmeras escondidas permitiram analisar os tesourinhas em detalhes e detectar de onde os sons vinham e em quais momentos eram usados.
Eles descobriram que mais do que bater suas asinhas para voar, os tesourinhas machos fazem isso para gerar barulho durante lutas com outros machos e no início da manhã, para impressionar as fêmeas. Ou seja, essa é mais uma forma da espécie se comunicar, além do canto. O mais interessante é que duas subespécies do pássaro têm asas e penas que produzem sons diferentes.
Uma das duas subespécies do tesourinha vive o ano inteiro nas regiões mais ao norte da América do Sul — inclusive aqui no Brasil —, enquanto a outra migra mais para baixo no mapa para acasalar e volta para perto da linha do Equador no inverno, de forma que os “primos” convivem apenas uma parte do ano.
A subespécie de pássaros migratórios tem penas diferentes em suas asas, para conseguir voar melhor. Como resultado, ela produz um som diferente — mais agudo — quando bate suas asas, em relação ao tesourinha que não viaja. Por enquanto, isso é apenas como dialetos ou sotaques diferentes do mesmo idioma e os dois tipos de tesourinha são considerados como parte da mesma espécie.
Mas, como dissemos, o som do bater das asas é usado para atrair as fêmeas para acasalar. Por isso, os “dialetos” diferentes podem fazer com que a reprodução entre as duas subespécies fique mais difícil e mais rara — até que os dois tesourinhas se tornem espécies diferentes, que não conseguem reproduzir entre si.
Bom… Acasalar com pessoas de sotaques e idiomas diferentes nunca foi um problema para os humanos, né? Esperamos que não seja para esses pássaros.