Artes/cultura
12/10/2020 às 05:00•2 min de leitura
Caso você morasse na região da Nova Zelândia antes do ano 1400 e decidisse passear um pouco, é possível que se deparasse com alguma águia-de-haast e se impressionasse com o animal, que, infelizmente, foi extinto devido à ação humana. Mesmo com o desaparecimento da espécie, entretanto, estudos científicos foram (e são) capazes de nos dizer um pouco mais sobre a ave de rapina que, certamente, marcou presença na História.
Pesando cerca de 14 quilos e com quase 2,5 metros de envergadura de uma asa à outra, os exemplares, considerados os maiores predadores locais, viviam em um ecossistema no qual se encontrava uma variedade impressionante de vida selvagem.
Devido a seu tamanho, que deixaria as harpias, maiores existentes hoje em dia, no chinelo, levantar voo não era exatamente fácil – ainda mais para as fêmeas, mais pesadas que os machos. Sendo assim, pesquisadores acreditam que planavam pouco e preferiam se empoleirar em locais cuja vista permitisse a identificação de presas em potencial – especialmente moas gigantes, aves de aproximadamente 230 quilos.
Mesmo estando no topo da cadeia alimentar, se lançando com a força de um bloco de concreto que cai do topo de um prédio de oito andares e possuindo poderosas garras, as águias-de-haast não resistiram à chegada dos maoris, primeiros colonizadores vindos da Polinésia no século 13, que caçaram indiscriminadamente sua principal fonte de alimentação e causaram o fim de ambas as criaturas.
Histórias e representações da águia-de-haast surgiram no folclore e nas obras de arte dos então recém-chegados, cujas lendas e desenhos eram registrados em cavernas, sugerindo um curto período de convivência, não exatamente pacífica. Ainda que vitimassem principalmente outras aves, a tradição oral dos maori conta que crianças também eram atacadas por elas, e estes eram os únicos relatos existentes até 1871.
Nesse ano, Frederick Fuller, taxidermista europeu, desenterrou ossos da espécie enquanto explorava um pântano em North Canterbury e levou a informação ao diretor do Museu de Canterbury, Julius von Haast, que publicou a primeira descrição científica do achado. Depois disso, novas escavações foram realizadas e forneceram à Ciência detalhes inéditos – que são revelados até hoje.
Uma análise genética realizada em 2019 causou espanto a pesquisadores, pois mostrou que a águia pequena, nativa da Austrália, tem relação direta com a extinta na Nova Zelândia e que as duas possuem um ancestral em comum, surgido no início da última Era do Gelo.
Enquanto a mais nova tem apenas 1 milhão de anos, a águia-de-haast pode ter chegado à sua morada 2 milhões de anos atrás. “Em uma escala de tempo evolucionária, isso é essencialmente ontem”, declara Michael Knapp, pesquisador do Departamento de Anatomia da Universidade de Otago e líder do estudo.