Artes/cultura
15/10/2021 às 08:00•3 min de leitura
Com o extremismo político e os gabinetes de disseminação de informações falsas, a pandemia causada pelo novo coronavírus cultivou a ideia de que o vírus causador da doença, o Sars-COV-2, tenha sido liberado deliberadamente pelo governo chinês para causar uma "reviravolta política" no cenário mundial — ainda que isso significasse a morte de milhares de pessoas e a ruptura econômica de vários países.
Apesar de essa ideia de bioterrorismo ter sido muito cultuada nos Estados Unidos e no Brasil, no mundo todo reacendeu a questão de como um vírus pode escapar de um laboratório de contenção, como aconteceu com a varíola na Grã-Bretanha, e a febre aftosa.
(Fonte: Scientific American/Reprodução)
Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), os laboratórios de têm 4 níveis de segurança: do Nível de Biossegurança 1 (BSL-1) ao BSL-4, dependendo do tipo de patógenos que está sendo manuseado.
Os níveis BSL-3 e 4 operam com os mais rigorosos protocolos de segurança porque lidam com agentes já conhecidos por infectar laboratórios, especialmente ao entrar em contato com o ar. Portanto, foram desenvolvidos ao longo de décadas de estudos recursos de segurança para minimizar as possibilidades de uma patógeno escapar pela porta.
(Fonte: Bulb Laboratories/Reprodução)
Isso inclui controle de engenharia especializada, como operação de ar com pressão negativa e ar de exaustão filtrado; processos de descontaminação de resíduos, como autoclavagem; esterilização a vapor ou incineração; e equipamentos de alta proteção. Além disso, a entrada é restrita a trabalhadores que passaram por rigorosos exames para verificação do quadro de saúde e um treinamento intensivo de repetição.
Cada laboratório tem seus procedimentos para minimizar as possibilidades de violações da contenção, porém existem três maneiras básicas pelas quais um patógeno pode escapar do perímetro de segurança.
(Fonte: The Economic Times/Reprodução)
Esse método é considerado improvável, visto que os laboratórios têm sistemas muito tecnológicos de tratamento de ar, que incluem filtragem de partículas de alta eficiência (HEPA) antes que o ar seja liberado do ambiente. Portanto, torna-se muito difícil que um vírus consiga driblar esses filtros, principalmente porque patógenos não sobrevivem bem ao entrarem em contato com luz solar.
Sobretudo, cientistas trabalham com pequenos volumes de organismos; então, um patógeno se dispersaria rapidamente na atmosfera se acabasse escapando, devido à sua insuficiência para causar infecção.
(Fonte: CDC/Reprodução)
Em 1979, na cidade de Sverdlovsk, na União Soviética, uma instalação de armas biológicas, chamada Composto 19, causou a morte de 66 pessoas por inalação a antraz depois que os esporos de patógenos escaparam do laboratório quando um técnico esqueceu de substituir um filtro de ar. Além do erro humano, na época os cientistas trabalhavam com volumes muito grandes do vírus, considerados mais resistentes ao ar.
A falha foi encoberta por meio de um esforço massivo das autoridades soviéticas, usando dados falsos na mídia para provar que a doença foi originada da carne contaminada, que teria causado o antraz gastrointestinal.
(Fonte: Healthline/Reprodução)
É exatamente porque as pessoas cometem erros e os sistemas falham que as medidas de segurança em laboratórios têm métodos de redundância, como as travas de uma montanha-russa.
A checagem de todos os procedimentos acontece de maneira meticulosa e cansativa sempre que um cientista vai entrar ou, principalmente, sair de um laboratório. É por isso que os trabalhadores se despem e vestem as roupas antes de entrar no perímetro laboratorial, removendo-nas e tomando banho no fim do expediente. Isso é uma maneira simples de evitar que patógenos sejam transportados para fora por meio de roupas ou cabelo.
Mas, mesmo assim, eles podem cometer o erro de enviar um patógeno acidentalmente para fora do limite de contenção ao se contaminar com ele. Isso aconteceu em 2004 com Antonina Presnuakova, uma cientista altamente experiente da Rússia, que morreu da doença causada pelo vírus ebola ao se espetar em uma agulha contaminada.
(Fonte: Strickendots/Reprodução)
Esse tipo de bioterrorismo é o primeiro que vem em mente quando o assunto é um vírus mortal, devido às conspirações e ao histórico de algumas superpotências ao longo do século XX.
Apesar de laboratórios de contenção terem sistemas de monitoramento de vídeo 24 horas, existem histórias de patógenos que foram contrabandeados para fora do perímetro.
Em Dalles (Oregon, EUA), o movimento Rajneesh, um grupo de pessoas que seguem os preceitos de Osho, tinha o próprio laboratório e buscava melhorar sua posição nas eleições do condado contaminando saladas locais com Salmonella. Essa atitude conseguiu causar diarreia severa em pelo menos 751 pessoas. Mais tarde, o culto acabou se dissolvendo, e alguns de seus membros foram presos.
Existem um percentual de possibilidade em cada um dos cenários indicados, porém as diretrizes de segurança e os níveis de tecnologia dos laboratórios tentam garantir a cada dia que nenhum deles se concretize.