Ciência
19/02/2022 às 09:00•3 min de leitura
Uma das franquias mais interessantes da ficção científica é a série de filmes Planeta dos macacos, que imagina uma versão diferente da evolução do planeta Terra. Ao invés de os homens terem evoluído dos macacos e os dominado, teria ocorrido o contrário: os símios teriam dominado e escravizado os homens.
A premissa fascinante surgiu no romance francês chamado La Planète des Singes, escrito em 1963 por Pierre Boulle. Desde então, já foram 9 filmes, além de seriados de TV e histórias em quadrinhos que imaginaram desdobramentos dessa ideia. Mas será que o cenário pintado em Planeta dos Macacos poderia realmente acontecer na vida real? Ou seja, os macacos poderiam um dia nos dominar? A resposta é sim, e vamos te explicar o porquê!
(Fonte: Gerald Herbert/AP/PA)
Há séculos os cientistas pesquisam a inteligência dos macacos, mas sempre mantiveram a premissa de que o intelecto humano era mais evoluído que o dos símios. Porém, pesquisas mais recentes levantam a hipótese de que os macacos — em especial, os chimpanzés — têm desempenho melhor que os humanos em algumas áreas.
Experimentos feitos na Universidade de Kyoto, no Japão, mostraram que o símio se saía melhor do que estudantes em algumas provas que envolviam memorização. Os testes foram repetidos com outros chimpanzés e evidenciaram que os animais tinham um desempenho melhor de memória a curto prazo do que os rivais humanos. Eles observaram também que os símios tinham certas habilidades desenvolvidas na área da comunicação não-verbal, que nós normalmente não temos.
(Fonte: Getty Images/BBC)
Na década de 1960, a antropóloga Jane Goodall entrou no Parque Nacional Gombe Stream, na Tanzânia, para observar o comportamento dos chimpanzés. Suas constatações foram surpreendentes: ela notou que os macacos conseguiam fazer ferramentas com galhos e folhas, além de terem o hábito sistemático de caçar primatas menores. Além disso, ela testemunhou uma “guerra” entre os chimpanzés em 1974, que se iniciou quando um grupo de macacos emboscou os rivais e os matou.
O conflito se desdobrou numa guerra (que durou 4 anos!) em que os macacos dominavam territórios e usavam estratégias brutais, como sequestro, assassinato, estupro e agressões sádicas de todo tipo. Frente a tudo isso, Jane Goodall quebrou a ideia recorrente dos chimpanzés como animais pacíficos — na verdade, eles brigam entre si de forma organizada, se assemelhando muito a exércitos humanos.
Planeta dos Macacos, 2001. (Fonte: 20th Century Studios/Reprodução)
Os problemas ambientais estão levando os chimpanzés em Uganda a entrarem em conflitos com os humanos nativos. Por conta da perda do seu habitat natural, os macacos invadem plantações e tentam dominar os “guardiões” do local. E pasme: eles fazem isso de forma organizada e focam especialmente nos mais vulneráveis, ou seja, nas crianças.
Desde 2014, há registros de crianças mortas ou feridas por chimpanzés em Uganda e no Congo. Como o desmatamento da floresta tropical destes países só aumenta, é de se imaginar que os ataques não diminuirão. Ironicamente, é ilegal atirar em um chimpanzé em Uganda.
(Fonte: Peter Stefen/AFP)
Os macacos acreditam em Deus? Será que nós, os humanos, temos o “monopólio” da espiritualidade? Pesquisadores observaram que os chimpanzés realizam alguns comportamentos típicos de rituais, o que sugere a possibilidade de eles terem uma espécie de religião. E onde há religião, há algum tipo de crença em algum deus ou criador.
Os macacos africanos foram vistos construindo templos de pedra e realizando danças rituais que, segundo os cientistas, não parecem ter outro propósito a não ser para agradar os deuses.
Planeta dos Macacos: A Origem, 2011. (Fonte: 20th Century Studios/Reprodução)
Há uma preocupação cada vez maior na comunidade científica sobre o aumento da inteligência de todos os animais — o que ocorre, em parte, por ação dos humanos. Uma pesquisa de 2011, publicada na Academy of Medical Sciences, sugeriu a necessidade de normas que regulem pesquisas que buscam humanizar animais. “O receio é que, se você começa a colocar um número muito grande de células humanas em cérebros de primatas, poderia transformar o primata em um ser com capacidades que consideramos distintivas dos seres humanos”, relatou o professor Thomas Baldwin.
Alguns pesquisadores acreditam que, assim como ocorreu com os humanos, o fogo pode ser a chave da evolução dos macacos. “Cozinhar a carne ajuda a processar as proteínas muito mais rapidamente, e essa importante introdução levou a um impressionante crescimento da mente e ao desenvolvimento da linguagem, o que nos tornou a espécie dominante. Se os macacos tivessem o impulso do fogo e começassem a posicionar-se de forma ereta por longos períodos, poderiam se desenvolver e tornar-se a espécie dominante”, opinou o futurologista Ray Hammond.