Ciência
21/08/2022 às 08:00•2 min de leitura
Nem mesmo a mais eficiente engenharia de tráfego dos países desenvolvidos conseguiu solucionar o problema do congestionamento nas grandes cidades. Contudo, uma equipe de cientistas da Universidade Hokkaido, no Japão, estão desenvolvendo uma pesquisa com uma espécie mofo que pode ajudar a melhorar os sistemas viários do país.
Usando a Physarum polycephalum (mofo limoso), eles identificaram que a espécie cresce e se conecta a restos de comida, criando um visual semelhante ao do sistema de transportes de Tóquio. Flocos de aveia foram usados para que o layout correspondesse às cidades vizinhas, e luzes brilhantes, às quais o mofo evita, para simular montanhas e outros aspectos geológicos.
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(Fonte: Wikimedia Commons)
De acordo com a equipe de pesquisadores envolvidos no estudo, o mofo limoso foi escolhido por ser um animal unicelular semelhante ao fungo, cujo crescimento se dá em rede semelhante a veias interligadas. Conforme crescem, espalham-se pela superfície em que estão tal qual uma teia.
No seu processo de expansão, o mofo usa uma estratégia que visa descobrir e explorar os recursos que estão à disposição. Na prática, seria como se o ser unicelular estivesse em processo de evolução, buscando crescer de maneira que seja a mais eficiente, possibilitando maximizar o acesso a nutrientes.
Para completar, havia um precedente. No ano 2000, uma equipe da Universidade Hokkaido liderada pelo biólogo Toshiyuki Nakagaki já havia descoberto que o Physarum polycephalum era capaz de encontrar o caminho mais curto em um labirinto para estabelecer a conexão entre recurso alimentares. O trabalho foi premiado e serviu de mola propulsora.
Após confirmarem ser possível sobrepor o traçado de crescimento do mofo com o sistema de transporte de Tóquio, os pesquisadores criaram uma equação matemática que se utilizava dos padrões identificados. Esse é, inclusive, considerado o grande legado do estudo mais recente, por fornecer um modelo matemático simples para um fenômeno biológico complexo.
No demais, o aprendizado do organismo unicelular demonstrou que a eficácia do sistema por ele criado priorizava rotas que davam melhores resultados e ignorava as redundantes, adaptando-se sempre que necessário para obter a maior eficiência.
O modelo matemático e os aprendizados do estudo serão levados a um computador para a construção de um modelo, de maneira que possam projetar redes de transporte mais eficientes e adaptáveis. Ainda não há um prazo para que isso ocorra, mas é um grande avanço.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A equipe da Universidade Hokkaido, em artigo publicado na revista Science, apontou que o modelo matemático descoberto guarda outros aspectos positivos. Entre as finalidades descritas, apontaram que as redes descentralizadas e adaptáveis também poderiam ser aplicadas em soldados no campo de batalha.
O uso em robôs que estivessem explorando ambientes inóspitos também foi apontado como viável. Por fim, poderiam aplicar o modelo em questões da área de saúde, como o estudo do comportamento dos vasos sanguíneos na presença de tumores e como se antecipar à evolução deles. Nunca o mofo foi tão útil à humanidade como agora.