Ciência
07/07/2023 às 11:00•2 min de leitura
Quem tem cães em casa sabe o clima de terror e ansiedade que se instale quando os animais são expostos a eventos ruidosos, como fogos de artifício e gritos. A cada rojão de festa junina, a cada final de campeonato e, horror dos horrores, a cada réveillon, uma multidão de cachorros de todas as idades corre para os banheiros ou rasteja para debaixo da cama.
No entanto, enquanto alguns desses bichos começa a uivar em desespero ao som de um simples estalinho, muitos permanecem impassíveis ante explosões violentas de foguetes e bombas. Em um estudo publicado em 2015 na revista Applied Animal Behaviour Science, 49% dos tutores afirmaram que seus cães tinham medo de ruídos altos.
Buscando entender o motivo pelo qual essas reações são diferentes em animais expostos à mesma fonte de ruído, cientistas do mundo inteiro têm realizado pesquisas sobre o assunto. O objetivo é usar esses insights para melhorar a qualidade de vidas dos cães e eventualmente estabelecer uma melhor compreensão das fobias em humanos.
Fonte: GettyImages.
Um dos motivos geralmente apontados para explicar o pavor que alguns cães têm de fogos de artifício é sua notável sensibilidade auditiva. Os cães são capazes de ouvir mais do que o dobro das frequências que os humanos ouvem, e escutam ruídos quatro vezes mais distantes. No entanto, como reagir a todos esses sons demandaria muita energia, eles têm um mecanismo que determina quais sons podem ser "desligados".
Outra explicação frequente apresentada pode ser o temperamento, pois, diferentemente do humor e da personalidade (que são estados emocionais), aquele aspecto pode ser afetado e moldado pela epigenética. Isso pode ajudar a esclarecer como fatores ambientais são capazes de mudar o comportamento de nossos amigos peludos.
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Um estudo de junho de 2020 publicado na revista Journal of Veterinary Behavior tomou um caminho inverso de pesquisa. Nele, a bióloga comportamental e professora da Universidade de Berna, Stefanie Riemer, analisou a eficácia de tratamentos já testados para medo de fogos de artifício em cães domésticos.
Ao todo, foram analisados métodos de manejo e tratamento usados por 1.225 tutores de cachorros que responderam a uma pesquisa e correlacionaram suas estratégias pessoais com uma pontuação de medo. Foram usados métodos como CDs de ruído para abafar som, difusores de feromônios, produtos fitoterápicos/homeopáticos, medicamentos, relaxamento, contracondicionamento e uso de coletes calmantes.
Riemer concluiu que o contracondicionamento doméstico “seria provavelmente o conselho mais importante para qualquer tutor, especialmente com um filhote novo”. O procedimento indica que, assim que os fogos começarem, os donos brinquem com o cachorro, forneçam guloseimas e expressem emoções positivas. Cães que receberam esse tratamento mostraram-se 70% menos assustados com fogos do que os que não receberam.