Ciência
04/08/2023 às 04:00•2 min de leitura
A natureza sobrevive graças a um perfeito e delicadíssimo equilíbrio entre a interação das espécies. Sendo assim, não são raros os casos em que a interferência humana tenha causado prejuízos a animais e plantas — e um dos casos mais intrigantes é a interação do falcão-das-ilhas-maurício com as espécies invasoras introduzidas no país.
Localizado no oceano Índico, as Ilhas Maurício formam um pequeno país africano, situado a 800 km da costa do continente. Esse país chama a atenção de turistas de todo o mundo devido à sua beleza e natureza deslumbrante.
Contudo, esse paraíso lida com desafios ambientais quando o assunto é proteger sua biodiversidade única. O falcão-das-ilhas-maurício (Falco punctatus) é um animal encontrado apenas nesse conjunto de ilhas.
Quando os primeiros colonizadores chegaram ao local, trouxeram consigo ratos, gatos, espécies exóticas de plantas e venenos. A entrada desses seres causou um grande desequilíbrio ambiental que quase extinguiu os falcões, enquanto os venenos enfraqueceram as cascas dos ovos das aves. No pior período, existiam apenas quatro falcões vivos.
Com um trabalho intenso de pesquisadores a população em cativeiro desses pássaros chegou a mil exemplares — e parte dessa conquista se deve a uma espécie invasora de planta: a árvore-do-viajante
Falcões nativos das Ilhas Maurício. Reprodução: Hakai Magazine
Os falcões-das-ilha-maurício foram duramente afetados pelo desequilíbrio ambiental, pois sua principal fonte de alimento é a lagartixa-de-cauda-azul. Essa lagartixa é rica em cálcio, essencial para a boa formação dos ovos das aves.
Todavia, a lagartixa dependia de uma espécie nativa de palmeira que não só servia de abrigo, como atraía os insetos que alimentavam esse animal — e é aí que mora o problema.
Com a chegada dos europeus, os ratos passaram a se alimentar das sementes dessas palmeiras e o plantio de outras espécies de plantas fez com que as palmeiras nativas se tornassem raras, o que criou um efeito dominó no ecossistema que terminou atingindo os famosos falcões.
No entanto, uma espécie invasora acabou se revelando uma aliada dos falcões. A árvore-do-viajante é uma espécie nativa de Madagascar. Suas folhas lembram a das bananeiras e elas crescem como um leque.
Essa planta passou a servir como moradia das lagartixas, pois também atraia insetos, o que ajudou a aumentar o número de falcões.
Lagartixa nativa que serve como principal alimento dos falcões. Reprodução: Hakai Magazine
O problema é que por não ser nativa, a planta acabou prejudicando outras espécies de aves, além de insetos e morcegos. Ao crescer descontroladamente, o vegetal reduz a oferta de sementes e flores nativas que servem de alimentos para esses animais.
Árvore-do-viajante. Fonte: Getty Images
Pesquisadores concordam que é preciso eliminar espécies invasoras, como a árvore-do-viajante e a goiabeira — sim, a goiabeira brasileira também se tornou um problema nesse país.
A questão é que se fizerem isso de forma acelerada, o falcão tende a desaparecer, já que sua pequena população está caindo. Se fizerem isso de forma muito lenta, pode ser difícil vencer o ritmo de crescimento das plantas invasoras, o que extinguiria morcegos, insetos e outras aves.
É muito difícil vencer nesse cenário, o que mostra o quão delicado é o equilíbrio ambiental.