Ciência
10/08/2023 às 06:30•2 min de leitura
Não precisa responder em voz alta a essa pergunta: você já ficou feliz com a desgraça alheia? É possível que sim — e existem vários motivos para isso. Em determinados momentos, o problema de outra pessoa pode soar como uma constatação de que o alguém estava certo.
Por exemplo: se um amigo diz que o outro deveria levar um guarda-chuva e é ignorado, ele pode ficar alegre ao ver que seu colega ficou ensopado depois de um temporal — ainda que não demonstre isso.
Os alemães (como sempre) têm uma palavra para isso: Schadenfreude. O termo, quase impronunciável para nós, é uma junção de duas outras palavras alemãs: schaden (dano) e freude (alegria). Portanto, uma tradução literal seria a “alegria pelo dano”, mas o dano alheio, é claro.
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As emoções humanas são muito complexas. Pesquisadores do mundo todo têm se dedicado a entender as causas e consequências do Schadenfreude, que não é um fenômeno novo.
O filósofo alemão Arthur Schopenhauer acreditava que esse sentimento deveria ser abominado, pois era a demonstração de um sentimento maligno, já que a desgraça alheia que trouxe alegria à pessoa não teria oferecido a ela nenhum benefício concreto, apenas prejudicado o outro.
O francês Charles Baudelaire argumentava que o Schadenfreude estava alicerçado no sentimento de superioridade de quem o sentia. Ele exemplificava seu argumento citando as pessoas que observam as outras caindo no gelo.
Ao verem os outros caindo, o observador poderia se sentir superior, pois ele não caia. É possível trazer esse exemplo para os nossos dias, como os acidentes de trânsito, em que o motorista que observa pode se achar mais habilidoso por não estar envolvido com o acidente.
O filósofo francês René Descartes afirmava que esse sentimento pode indicar um ímpeto por justiça, quando a pessoa se alegra com a desgraça que atingiu alguém considerado mau ou que fez algo considerado ruim.
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Como as redes sociais intensificam a comparação entre as pessoas e o acesso às informações, alguns pesquisadores argumentam que elas têm estimulado o crescimento desse sentimento.
Quando o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi diagnosticado com covid-19, houve um crescimento de 30.500% em pesquisas relacionadas ao termo Schadenfreude, o que indica que muita gente se sentiu feliz com a doença de Trump.
Já o sentimento de comparação constante pode fazer com que as pessoas se alegrem com uma desgraça alheia para que não se sintam tão inferiores.
Ao mesmo tempo, os algoritmos usados pelas redes sociais dividem as pessoas em grupos e subgrupos. Isso pode criar um comportamento de bando, como o visto por torcidas organizadas de futebol.
Nele, as pessoas podem se alegrar com a desgraça do outro pelo simples fato dela atingir alguém de um grupo considerado rival.
Uma forma de minimizar o Schadenfreude seria buscando ter um comportamento empático, colocando-se no lugar do outro e buscando compreender que aquela desgraça trouxe para aquela pessoa dor.