Ciência
14/08/2023 às 13:00•2 min de leitura
Você deve ter aprendido nas aulas de biologia que existem dois tipos de reprodução de seres vivos: a sexuada e a assexuada. A reprodução sexuada é aquela em que os gametas masculino e feminino se unem para gerar um novo indivíduo. Nesse caso, os animais dependem do acasalamento. Uma das vantagens dessa reprodução é a variedade genética que os animais ganham.
Por outro lado, a reprodução assexuada é feita de forma diferente, com o organismo vivo se duplicando. Esse é o caso das bactérias, que praticamente se clonam.
Mas mesmo animais que se reproduzem de forma sexuada podem, em casos raros, darem à luz filhotes saudáveis que não vieram de um óvulo fecundado por um espermatozoide. Essa condição é chamada de partenogênese e ocorre em insetos, anfíbios e até em répteis, como crocodilos.
Os casos mais famoso de partenogênese aconteceram em zoológicos, com fêmeas que ficaram sozinhas por anos e que, sem esperança de cruzarem com machos, acabaram tendo filhotes sozinhas. Em 2019, isso ocorreu com um lagarto nos EUA.
Lagarto da esquerda deu à luz o lagarto da direita sem que houvesse fecundação. Reprodução: Divulgação Museu Smithsonian
Fonte: Getty Images
A partenogênese é um fenômeno que, apesar de raro, é natural. Não seria possível induzir que animais tivessem filhotes dessa forma sem que isso já estivesse registrado em seu DNA. Na verdade, essa afirmação deixou de estar correta neste ano, pois cientistas conseguiram induzir uma espécie de mosca a gerar filhotes saudáveis, mesmo ela sendo virgem.
Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, conseguiram fazer com que moscas-da-fruta (Drosophila melanogaster) se reproduzissem dessa forma alterando os genes desses animais.
"Somos os primeiros a mostrar que nascimentos virginais podem ser modificados para ocorrer em um animal. Foi muito emocionante ver uma mosca virgem produzir um embrião capaz de se desenvolver até a idade adulta e depois repetir o processo", afirmou a bióloga Alexis Sperling, líder da pesquisa.
O estudo durou seis anos. Foram usadas mais de 220 mil moscas durante todo o experimento.
O resultado mostrou que as moscas fêmeas geneticamente modificadas eram capazes de gerar outras moscas fêmeas com a mesma característica de reprodução virginal, em que não há necessidade de acasalamento. Essas moscas são incapazes de gerarem machos.
As moscas só optaram por esse tipo de reprodução quando não havia machos disponíveis e só depois de um período de 40 dias, que corresponde a metade da vida desses animais.
Apesar de conseguir criar uma nova geração de moscas, essa característica pode gerar problemas para os insetos, pois enfraquece a espécie geneticamente. Dessa forma, as novas moscas seriam incapazes de lidarem com novos desafios ambientais.
Ao mesmo tempo, esses animais poderiam se tornar um problema para a sociedade, pois conseguiriam se reproduzir em escala, o que poderia ser um desafio para a agricultura.
“Se houver pressão de seleção contínua para nascimentos virginais em pragas de insetos, que parece existir, isso as levará a se reproduzir apenas dessa maneira. Isso pode se tornar um problema real para a agricultura, porque as fêmeas só produzem fêmeas, então sua capacidade de propagação é duplicada”, explicou Sperling à BBC.