Ciência
21/08/2023 às 14:00•2 min de leitura
Se você já assistiu a algum filme antigo de suspense, deve ter se deparado com aquela cena em que uma pessoa que está seguindo a outra precisa se esconder rapidamente para não ser flagrada, né?
Acontece que biólogos da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, descobriram que uma espécie de peixe tem o costume de fazer exatamente isso. O peixe-trombeta (Aulostomus maculatus) é um peixe de corpo alongado e fino que até lembra uma enguia, ainda que não seja uma.
Pesquisadores perceberam que esse animal estava mantendo um comportamento que não havia sido visto ainda no reino animal: esconder-se atrás de outro bicho propositalmente para caçar.
Muitos animais se escondem e muitos outros são exímios caçadores. Agora, esconder-se atrás de outro animal, usando-o para se camuflar ao ambiente, com o objetivo de capturar sua presa, é um comportamento visto pela primeira vez na natureza.
Reprodução: Universidade de Cambridge
“Embora os biólogos de peixes saibam disso há muito tempo, esta é a primeira vez que alguém realmente fez um experimento que demonstrou a vantagem que essa estratégia oferece ao peixe-trombeta”, afirmou Luiz Rocha, especialista em peixes da Academia de Ciências da Califórnia, em entrevista ao The New York Times.
Antes de se esconder atrás de outros peixes, os biólogos já sabiam que os peixes-trombetas usavam os recifes de corais para se esconderem e pegarem suas presas de surpresa. Esses peixes têm focinhos alongados usados para sugar animais menores, como pequenos camarões.
Contudo, os recifes de corais já não estão mais tão abundantes como eram antigamente. Os recifes de corais caribenhos correspondem a 9% de todos os recifes de corais do mundo, mas eles estão cada vez menores. Entre os anos de 1970 e 2015 os corais no Caribe perderam 50% do seu tamanho.
Isso levanta a hipótese de que para sobreviver os peixes-trombeta passaram a usar os peixes herbívoros, que não competiriam com eles por comida, para se esconderem das presas, evitando a falta dos corais em sua estratégia de caça.
Os peixes-papagaios são os esconderijos prediletos dos peixes-trombeta. Por isso, os biólogos imprimiram vários moldes de peixes herbívoros e os lançaram próximos ao habitat dos peixes-trombeta.
As imagens captadas pelos pesquisadores mostram os peixes-trombeta se aproximando dos peixes em 3D com o objetivo de usá-los como esconderijos. Essa estratégia se chama “sombreamento” e seu nome é bastante didático, já que o peixe oportunista se comporta como uma sombra do outro animal.
“Vemos muitas estratégias incríveis de animais em todo o reino animal em camuflagem e ocultação e as maneiras pelas quais eles se disfarçam e disfarçam suas intenções”, contou o biólogo Sam Matchette, coautor do estudo ao jornal britânico The Guardian.
Os pesquisadores acreditam que o uso de sombreamento por essa espécie deve continuar crescendo, acompanhando o ritmo de degradação dos recifes de corais.
Fonte: Getty Images
Os corais do Caribe estão seriamente ameaçados de extinção e isso vai impactar a vida de muita gente, não só a do peixe-trombeta. Um estudo de 2015, que contou com a participação de 90 especialistas, mostrou que os recifes de corais caribenhos geravam US$ 3 bilhões anuais (na época) em receitas à região e que 43 milhões de pessoas dependiam deles para sobreviverem.