Ciência
27/02/2024 às 10:00•2 min de leitura
Um novo estudo trouxe à luz um achado impressionante: um peixe fossilizado, datado de 365 milhões de anos atrás, que pode muito bem ter ostentado uma das maiores mandíbulas inferiores já registradas na natureza, sendo duas vezes mais longa que o próprio crânio.
Esse curioso animal das profundezas é o Alienacanthus malkowskii, um membro da ordem dos placodermes, um grupo de peixes que tinham placas dérmicas (daí o nome) cobrindo o corpo e foram os primeiros peixes a desenvolverem mandíbula e dentes. Eles já estavam na Terra bem antes dos dinossauros darem o ar da graça.
O Alienacanthus tinha uma estrutura mandibular que favorecia sua mordida extrema. (Fonte: Beat Scheffold e Christian Klug/ Divulgação)
A descoberta inicial desse intrigante espécime remonta a 1957, quando um paleontólogo polonês desenterrou os primeiros fósseis na Polônia, batizando o peixe de Alienacanthus devido aos "espinhos" estranhos que se projetavam de sua cabeça, como se fosse algo "vindo de outro mundo".
Contudo, décadas depois, uma nova pesquisa revelou que esses "espinhos" eram, na verdade, a mandíbula inferior alongada do peixe, dando um insight sobre sua verdadeira natureza e, sobretudo, sobre sua impressionante adaptação e evolução.
Através do estudo minucioso de crânios quase completos encontrados nas montanhas do Marrocos, os pesquisadores identificaram que esse peixe pré-histórico não só tinha uma mordida incrível, mas também uma capacidade única: a mandíbula superior podia se movimentar de forma independente do crânio, o que ajudava a acomodar sua mandíbula inferior excepcionalmente longa.
Essa espécie viveu num período conhecido como Devoniano (entre 416 e 359 milhões de anos atrás), quando vastos oceanos dominavam a Terra e os continentes começavam a tomar forma, o Alienacanthus mergulhava em mares pré-históricos, exibindo sua anatomia peculiar e desempenhando um papel crucial na diversificação dos vertebrados com mandíbula e dentes.
Fóssil do Alienacanthus revela a enorme mandíbula inferior da espécie. (Fonte: Melina Jobbins e Christian Klug/ Divulgação)
A presença desse peixe em regiões distantes, como Polônia e Marrocos, sugere uma migração transoceânica, desafiando as noções convencionais sobre a mobilidade das criaturas marinhas naquela época, pois se acreditava que elas não se moviam por longas áreas (lembrando que no período devoniano os continentes tinham formação diferente da atual).
Comparado com seus contemporâneos e até mesmo com espécies modernas, o Alienacanthus se destaca como um caso único e extremo de adaptação. Enquanto outros peixes apresentam mandíbulas alongadas em uma das extremidades, o A. malkowskii eleva essa característica a um novo patamar, tornando-se um verdadeiro campeão da evolução.
À medida que os cientistas desvendam os mistérios por trás dessa extraordinária criatura, uma coisa fica clara: o Alienacanthus não é apenas um peixe antigo, é um símbolo da incrível diversidade e complexidade dos vertebrados que habitaram nosso planeta há milhões de anos. Quantos outros segredos aguardam ser revelados nas profundezas do passado pré-histórico?