Estilo de vida
10/11/2024 às 21:00•4 min de leituraAtualizado em 10/11/2024 às 21:00
Algumas armaduras foram feitas para impressionar e marcar presença, outras eram verdadeiras ferramentas de sobrevivência nas batalhas. Do linho endurecido dos guerreiros antigos ao metal reluzente dos cavaleiros medievais, essas armaduras mostram a evolução dos trajes de combate. “Toda armadura é um equilíbrio entre mobilidade e defesa”, explica Barry Molloy, arqueólogo e especialista em guerra antiga da Universidade de Dublin.
Desde o início das civilizações, os guerreiros dependem de suas armaduras para resistirem às espadas, lanças e flechas. Aqui estão 7 armaduras históricas que não só protegiam os corpos, mas também revelavam o poder e o prestígio de quem as vestia.
Descoberta em 1960, perto da vila de Dendra, no sul da Grécia, essa armadura remonta a 1500 a.C., época dos guerreiros micênicos. O conjunto era feito de mais de uma dúzia de placas de bronze, amarradas com tiras de couro, cobrindo o corpo do pescoço aos joelhos e incluindo protetores para canelas e braços. Na cabeça, um capacete feito de dentes de javali completava o visual intimidador.
Molloy, que estudou uma réplica exata da armadura de Dendra, revelou que ela oferecia proteção quase completa em uma simulação de batalha inspirada na Guerra de Troia. “O capacete e a grande proteção para o pescoço blindavam o usuário, mas, com o tempo, o design das armaduras foi adaptado para dar mais agilidade, retirando parte da proteção no pescoço”, ele explica.
Por volta do fim da Idade do Bronze, os guerreiros micênicos já buscavam novos designs de armaduras, e a de Dendra se tornou um marco, ilustrando a evolução do conceito de defesa e mobilidade.
O jovem rei Tutancâmon, que faleceu por volta dos 19 anos, em 1323 a.C., foi enterrado com uma armadura de couro que só foi descoberta em 1922. A armadura era composta por pequenas peças de couro cru sobrepostas, formando um padrão que lembrava escamas de peixe, cobrindo o torso.
Embora pinturas mostrem Tutancâmon caçando e pilotando carruagens com a armadura, é incerto se ele realmente lutou em batalhas. Mesmo assim, essa peça se tornou uma das mais icônicas do Egito Antigo, sendo hoje parte do acervo do Grande Museu Egípcio, no Cairo.
Para os egípcios, a armadura de Tutancâmon era mais que um símbolo de proteção; era uma forma de marcar o poder de um jovem rei que, mesmo com pouca experiência, possuía atributos de um grande guerreiro.
Essa armadura leve e prática foi feita há cerca de 2.500 anos e era composta por pequenos pedaços de couro sobrepostos, criando um visual escamoso semelhante ao de um peixe. Ela foi encontrada em uma tumba no deserto de Taklamakan, na China, preservada pelo clima seco da região.
Patrick Wertmann, arqueólogo da Universidade de Zurique, explica que a armadura provavelmente foi desenvolvida para atender a uma grande força militar. Wertmann atualmente trabalha em uma réplica dessa armadura para testar sua funcionalidade em combate e analisar seus aspectos tecnológicos.
Por ser leve e adaptável a diferentes corpos, a armadura de “escama de peixe” foi essencial para as tropas chinesas, mostrando o poder da inovação nas estratégias de batalha.
Essa armadura em estilo “escama de peixe” também foi utilizada pelo exército romano, onde era conhecida como “lorica squamata” e indicava um certo grau de hierarquia entre os soldados. Encontrada no antigo forte romano de Timacum Minus, na Sérvia, ela é datada do século 4.
A “lorica squamata” dava mobilidade e era usada principalmente pelos oficiais e soldados de elite, sendo menos rígida que a famosa “lorica segmentata”, que associamos aos legionários romanos. Arte e esculturas da época retratam imperadores e comandantes romanos com esse tipo de armadura, valorizando a aparência e imponência.
Por permitir maior agilidade, essa armadura foi fundamental em estratégias de combate, revelando o lado prático e sofisticado do exército romano.
Os samurais japoneses formavam uma elite aristocrática de guerreiros que, entre os séculos 12 e 19, eram treinados para a guerra e também cultivavam a honra e a lealdade. Entre os vários estilos de armaduras usadas, o “o-yoroi”, ou “grande armadura”, é um dos mais icônicos.
Feito de placas de ferro e couro decoradas com ornamentos em laca, o o-yoroi era usualmente usado a cavalo, criando uma imagem poderosa e intimidante do guerreiro. Diz a lenda que o primeiro shogun do Japão, Ashikaga Takauji, doou uma dessas armaduras a um santuário perto de Kyoto.
Mais do que uma armadura, o yoroi se tornou um item de honra e legado familiar, sendo passado de geração a geração como símbolo de poder e história.
Nas ilhas do Pacífico, os guerreiros de Kiribati usavam armaduras feitas com camadas grossas de fibra de coco e capacetes feitos de peixe-porco-espinho seco. A engenhosidade dessa armadura era resultado da escassez de recursos na região, usando materiais locais para se proteger.
Com espadas feitas de dentes de tubarão, esses guerreiros participavam de duelos ritualísticos que impressionavam pela brutalidade e uso de recursos inusitados. Relatos de missionários europeus no século 19 indicam que o uso dessa armadura começou a desaparecer.
O engenhoso uso de materiais marinhos nessas armaduras reflete a criatividade dos povos de Kiribati em transformar o que tinham em proteção eficiente e única.
Embora não seja exatamente antiga, a armadura do lendário bandido australiano Ned Kelly é um dos trajes de combate mais icônicos. Em 1880, Kelly e seu grupo de bandidos criaram uma armadura à prova de balas feita de lâminas de arado e a usaram em um assalto a um trem, perto de Glenrowan.
A armadura, que impressionou pela resistência, marcou o momento da captura de Kelly após um tiroteio com a polícia. Embora a armadura protegesse o torso e a cabeça, Kelly acabou sendo ferido nas mãos e pernas, sendo capturado e posteriormente enforcado.
O traje de Ned Kelly, que resistiu a 18 tiros, é lembrado como uma relíquia da rebeldia australiana e da tentativa desesperada de sobrevivência nas condições mais adversas.