Ciência
02/01/2025 às 21:00•3 min de leituraAtualizado em 02/01/2025 às 21:00
Portanto, saber mais sobre ele é entender melhor o surgimento do gado, um tipo de animal que foi fundamental para o desenvolvimento da humanidade. Mas pesquisas mostram que ainda há muito o que se aprender sobre o auroque.
Para compreendermos a evolução do gado, é necessário investigar a história do auroque, seu ancestral selvagem maior, mais feroz e já extinto. Um novo estudo de genomas de auroques antigos publicado no periódico Nature lançou luz sobre os profundos laços globais que unem este animal ao gado doméstico.
Os touros auroques possuíam chifres curvos característicos e podiam pesar até 700 kg. Relatos históricos descrevem esses animais como muito perigosos, já que eram agressivos, velozes e fortes, além de, aparentemente, não terem medo de nada.
Eles não eram apenas grandes, mas também foram muito bem-sucedidos como espécie, segundo o estudo, já que se espalharam pela Europa, Ásia e Norte da África, da Espanha e Marrocos à Índia e Coreia.
Os pesquisadores rastrearam em seu estudo 38 genomas de restos pré-históricos de auroques, que datam de cerca de 20 mil anos, durante a última Era Glacial da Terra. De acordo com Mikkel Sinding, pesquisador no departamento de biologia da Universidade de Copenhague, as descobertas mostram "uma história super complexa em que temos várias camadas de gado selvagem ao longo do tempo na Europa". Isso ocorria conforme as populações de auroques mudavam com mudanças em seu ambiente e, mais tarde, devido a suas interações com os seres humanos.
Durante o Último Máximo Glacial, período geológico em que as camadas de gelo atingiram a maior extensão, a diversidade genética em auroques europeus se reduziu drasticamente. Isso fez com a população desse animal diminuísse muito, já que eles perderam seu habitat.
Genomas mais recentes de auroques europeus mostram ancestralidade de várias populações de auroques asiáticos – o que sugere que, à medida que as condições ambientais para os auroques melhoraram novamente com o aquecimento das temperaturas, eles se moveram para outras regiões.
Cerca de 10.000 anos atrás, os seres humanos os domesticaram, o que impactou novamente a sua variedade genética. De acordo com Benjamin Arbuckle, arqueólogo e professor de antropologia da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, restos de auroques podem ser encontrados em comunidades agrícolas do Neolítico antigo da região do Crescente Fértil do Sudoeste da Ásia. Só que, por volta de 8.000 a.C., "esses restos ficam cada vez menores", afirma Arbuckle. Nessa época, provavelmente os humanos estavam criando seletivamente os animais em cativeiro.
Essa domesticação pode ter servido a vários propósitos, sugere Arbuckle. "Eles são poderosos, são trabalhadores, são produtores de leite. E são visualmente impressionantes e simbolicamente importantes, com seus grandes chifres, seus grandes corpos e suas peles coloridas interessantes", acrescenta.
Com o avançar do tempo, o gado foi se tornando cada vez mais importante para as populações humanas. A análise recente do DNA do auroque mostra que os primeiros pastores de gado também provavelmente cruzavam o seu rebanho com auroques selvagens onde quer que os encontrassem.
Estima-se que o último auroque conhecido morreu em 1627 na Polônia. Mesmo depois de desaparecer, esse gado se consolidou como culturalmente significativo, tanto que foi agregado ao folclore e a expressões idiomáticas em vários países.
Uma curiosidade é que, nos últimos anos, o auroque tem sido descrito como um provável candidato à “desextinção” por meio da reprodução seletiva. Assim, entender melhor a genética desse gado é um meio de chegar a esse resultado. No entanto, os pesquisadores ainda se questionam se ele realmente não existe mais. "O gado doméstico de hoje é auroque, basicamente, mas no mesmo grau que um poodle é um lobo", conclui Sinding.