Artes/cultura
03/07/2024 às 14:00•2 min de leituraAtualizado em 03/07/2024 às 14:00
Em um congresso arqueológico pré-histórico chamado “Novos Mundos Novas Ideias”, realizado na Itália no ano passado, um grupo de arqueólogos da Venezuela relatou um achado importante. Nada menos do que 20 sítios de arte rupestre datados de milhares de anos, no gigantesco Parque Nacional Canaima, no sudeste do país.
O mais surpreende, porém, é que, apesar de os pictogramas serem parecidos com outros desenhos do tipo encontrados em outros locais da América do Sul, podem ser elementos de "uma nova cultura até então desconhecida", segundo o líder da equipe, José Miguel Pérez-Gómez, pesquisador da Universidade Simón Bolívar, em e-mail ao Live Science.
Embora guarde uma certa semelhança com alguns traços descobertos no Brasil, e datados de cerca de 4 mil anos, a arte rupestre do Canaima pode ser ainda mais antiga, diz o arqueólogo.
A maioria dos pictogramas encontrados no Canaima apresenta linhas retas conectadas para criar diversos padrões e desenhos. Predominantemente vermelhas, elas apresentam motivos geométricos, variando entre linhas de pontos, filas de X's e padrões em forma de estrela.
Nos cenários pictóricos, há figuras de seres humanos, desenhados como bonecos de palito. Algumas dessas formas parecem ter sido entalhadas na pedra por ferramentas como rochas afiadas e martelos de pedra.
Para Pérez-Gómez, não é possível afirmar ao certo o que os habitantes da época pretendiam representar. Embora aposte em um possível significado ritual, ele reconhece que "é praticamente impossível entrar na mente das pessoas que viveram há tantos [milhares de] anos".
Sexto maior parque nacional do planeta, o Parque Nacional Canaima tem uma área de 30 mil quilômetros quadrados, o que o torna mais extenso que muito países, como a Bélgica, por exemplo. Segundo Pérez-Gómez, foi nesse mundo verde que a cultura misteriosa se desenvolveu, partindo depois para outros locais, como as margens do rio Amazonas, as Guianas e a Colômbia, todos com o mesmo tipo de arte rupestre.
Nos 20 locais onde os pictogramas foram observados pela equipe, foram também encontrados alguns restos de cerâmica e ferramentas de pedra, que podem ter sido usados pelos autores dos trabalhos. Os arqueólogos afirmam que, em futuras pesquisas, muitos desses detalhes poderão ser corretamente avaliados, e até mesmo descobertos novos locais com esse mesmo tipo de arte.
Lutando para conseguir apoio econômico na Venezuela, onde há poucos recursos para a pesquisa científica atualmente, Pérez-Gómez está mantendo contato com pesquisadores de países vizinhos, como o Brasil, para continuar seu trabalho.