Bebida psicodélica egípcia é descoberta em jarro de 2.200 anos

30/11/2024 às 12:002 min de leituraAtualizado em 30/11/2024 às 12:00

Um jarro cerâmico com 2.200 anos de idade está dando o que falar no mundo da arqueologia. Pela primeira vez, pesquisadores identificaram resíduos de plantas alucinógenas em um artefato egípcio, indicando que os antigos egípcios podiam usar essas substâncias em rituais religiosos ou mágicos. A descoberta sugere que o jarro, decorado com o rosto do deus Bes, pode ter contido uma mistura fermentada e psicodélica que ia muito além de uma simples bebida.

De acordo com o arqueólogo Davide Tanasi, da Universidade do Sul da Flórida, o achado é inédito: "Não há nenhuma pesquisa que tenha encontrado o que descobrimos neste estudo." A mistura identificada no recipiente incluía plantas com propriedades alucinógenas, mel, possíveis traços de alcaçuz e até fluidos humanos, ingredientes que potencialmente criavam uma experiência espiritual única.

Bes e o poder das visões

Bes, o deus da música, alegria e proteção no parto, estampa o jarro que intriga especialistas há décadas. (Fonte: Davide Tanasi/Reprodução)
Bes, o deus da música, alegria e proteção no parto, estampa o jarro que intriga especialistas há décadas. (Fonte: Davide Tanasi/Reprodução)

Bes, o deus associado à música, alegria e proteção durante o parto, é uma figura central nessa história. Ele era frequentemente representado em vasos como o jarro analisado, que já intrigava os especialistas. Por décadas, estudiosos se perguntaram sobre o uso dessas peças: seriam usadas em rituais religiosos? Em magias? Ou apenas no cotidiano?

Agora, com a análise do jarro, a resposta começa a ganhar forma. Três plantas alucinógenas foram encontradas no artefato. Entre elas, o lírio-d’água-azul (Nymphaea nouchali), que tem propriedades psicoativas e está diretamente ligado à iconografia de Bes. Outra planta, a arruda-síria (Peganum harmala), induz visões semelhantes às descritas em mitos egípcios. Já a terceira, do gênero Cleome, também é conhecida por suas propriedades alucinógenas.

Esses ingredientes criavam uma bebida que, segundo o curador Branko van Oppen, poderia ser usada em rituais para induzir sonhos ou visões. Ele explica: "Os egípcios podem ter usado essa mistura em rituais mágicos, especialmente durante períodos perigosos como a gravidez, que era cheia de incertezas na antiguidade."

Ritual ou experiência espiritual?

Bes era um deus egípcio associado à proteção de crianças, mulheres em trabalho de parto, do sono e das moradias. (Fonte: Getty Images)
Bes era um deus egípcio associado à proteção de crianças, mulheres em trabalho de parto, do sono e das moradias. (Fonte: Getty Images)

O jarro, encontrado ao sul do Cairo e datado do século II a.C., foi estudado por uma equipe dos Estados Unidos e da Itália. Além das plantas, os pesquisadores identificaram proteínas humanas no resíduo da bebida, incluindo possíveis traços de leite materno, muco e sangue. Esses componentes podem ter sido usados para personalizar os rituais, tornando a experiência mais íntima ou espiritual.

Durante o período em que o jarro foi criado, a cidade próxima hospedava as chamadas "Câmaras de Bes", locais onde rituais enigmáticos eram realizados. Acredita-se que visitantes buscavam o auxílio de Bes para garantir uma gravidez bem-sucedida ou superar desafios relacionados ao parto.

Tanasi destaca a importância da descoberta: "Este estudo é uma prova científica de que os mitos egípcios têm um fundo de verdade, ajudando a iluminar os rituais mal compreendidos das Câmaras de Bes em Saqqara." Agora, a expectativa é que outros vasos semelhantes sejam analisados para entender melhor como essas misturas eram usadas e qual seu papel na vida religiosa e social do Egito Antigo.

NOSSOS SITES

  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • Logo Mega Curioso
  • Logo Baixaki
  • Logo Click Jogos
  • Logo TecMundo

Pesquisas anteriores: