Ciência
28/03/2024 às 10:00•2 min de leituraAtualizado em 28/03/2024 às 10:00
No vasto universo das curiosidades da natureza tão presentes aqui no blog, uma criatura pequena, mas surpreendentemente astuta, ganha destaque: o besouro de esterco ou, como é mais comumente conhecido, o besouro-rola-bosta (Scarabaeus satyrus). Este ser humilde, que se alimenta de matéria fecal e desempenha um papel vital nos ecossistemas, também revela um talento notável para a navegação celestial, usando a Via Láctea como seu guia cósmico enquanto transporta seus precários tesouros fecais.
O Scarabaeus satyrus é de origem africana e normalmente inicia sua jornada noturna indo em busca de excrementos frescos. Após encontrar o material, transformam um pedaço de esterco em uma bola, a qual habilmente rolam para longe da pilha original antes de enterrá-la para consumo posterior. Mas o que intriga os cientistas é como esses besouros conseguem manter um curso reto, especialmente em noites escuras e sem lua.
Ao direcionar a bola de esterco para seu esconderijo, o bicho vai empurrando com as patas traseiras, como se estivesse fazendo uma parada de mão — também chamada de "plantar bananeira". Dessa maneira, percebe-se que ele faz essa movimentação olhando para baixo. Sabendo disso, como eles conseguem levar corretamente a bola até o local determinado?
A resposta reside nos céus estrelados acima deles. Assim como os antigos egípcios associavam os escaravelhos aos corpos celestes, os besouros de esterco, que são da mesma família dos escaravelhos, também encontram orientação na vastidão do cosmos.
Estudos revelaram que esses insetos, mesmo com sua visão limitada, podem distinguir o gradiente de claro a escuro da Via Láctea, utilizando-o como uma espécie de bússola celestial.
Para testar essa habilidade peculiar, pesquisadores realizaram experimentos, inclusive em um planetário em Joanesburgo, onde os besouros foram observados em diferentes cenários estelares.
Surpreendentemente, os besouros mantiveram sua trajetória quando expostos apenas à representação da Via Láctea, mas se perderam quando apenas as estrelas mais brilhantes foram mostradas. Isso sugere que eles não dependem de constelações específicas, mas sim da diferença de brilho ao longo da Via Láctea para se orientarem.
A estratégia dos besouros, embora simples em comparação com a navegação estelar de aves migratórias, é eficaz para suas curtas jornadas noturnas. Ao comparar o brilho das diferentes partes da Via Láctea, esses pequenos navegadores conseguem manter um curso reto enquanto transportam suas preciosas cargas de esterco.
Seguir em linha reta é importante, pois além de evitar errar o caminho para casa, essa habilidade contribui para a dispersão saudável de resíduos animais nos ecossistemas, enriquecendo o solo com nutrientes essenciais e reduzindo a propagação de pragas.
Em diversos lugares onde habitam, os besouros-rola-bosta enterram até 80% do estrume de animais, desempenhando um papel crucial na regulação do meio ambiente.
Caso encontrem algo no caminho que os façam sair da trajetória, eles rapidamente sobem em cima da bola de esterco e fazem observações para voltarem à direção correta. Por isso, se em algum momento você encontre com um desses animaizinhos no topo de uma dessas bolas, saiba que ele está apenas se orientando para poder seguir viagem.