É realmente possível "morrer de velho"?

01/10/2024 às 03:002 min de leituraAtualizado em 01/10/2024 às 03:00

É comum que as pessoas digam que um idoso "morreu de velhice". Mas a frase é imprecisa, já que velhice não é uma doença e, portanto, não pode ser a causa da morte de ninguém.

Então o que será que acontece? Se as pessoas não morrem por estarem velhas demais, isso significa que elas morrem do quê?

A causa da morte por velhice

(Fonte: GettyImages / Reprodução)
A idade avançada nunca será a causa da morte de alguém. (Fonte: GettyImages / Reprodução)
Dito de outra forma: é possível sim morrer por estar velho demais, mas a idade avançada, sozinha, nunca será a causa da morte. Não é a velhice que mata, mas sim as doenças que decorrem por causa dela.

É o que esclarece a médica Elizabeth Dzeng, que é professora na Universidade da Califórnia, em São Francisco. “Sempre há outras doenças preexistentes, ou novas doenças, que causam as mortes em questão. 'Velhice' não é algo que você colocaria em uma certidão de óbito — muito provavelmente, seria algo como parada cardíaca, que ocorre devido a algum problema subjacente, como uma infecção, ataque cardíaco ou câncer”, declarou ao site Gizmodo.

O fato é que algumas doenças, que também podem aparecer nas pessoas mais jovens, se tornam mais frequentes quando ficamos idosos. “Com pneumonia, por exemplo, os idosos podem não mostrar os sinais normais de infecção — eles podem, em vez disso, apresentar alto nível de açúcar no sangue, se forem diabéticos, ou se tiverem demência, eles podem apenas apresentar mudanças em seu estado mental: confusão aumentada, incapacidade de fazer as coisas que normalmente fariam. Quando somos mais velhos, e esse tipo de coisa acontece, podemos não atribuir isso ao processo da doença subjacente", acrescenta Dzeng.

O conceito de velhice

(Fonte: GettyImages / Reprodução)
A velhice passou a ser mais compreendida pelos médicos com o passar dos anos. (Fonte: GettyImages / Reprodução)

Na verdade, velhice é um conceito que se tornou mais complexo ao passar dos anos, o que também acompanhou o conhecimento sobre as causas de uma morte. Até algumas décadas atrás, as profissões de saúde tinham menos ferramentas para fazer diagnósticos. 

Por isso, "morrer de velhice" até fazia algum sentido. Soma-se a isso ao fato de que, até 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluía “velhice” como causa de morte em seu manual de dados da Classificação Internacional de Doenças (CID). Desde então, o CID foi substituído  por “declínio biológico associado ao envelhecimento na capacidade intrínseca”. Hoje em dia, falar que alguém morreu de velhice significa que não se sabe a exata causa de sua morte – seja por falta de informação ou pela ausência de um exame adequado.

Aqui, há uma curiosidade. Certos países ainda usam bastante essa expressão para designar a morte de idosos de idade avançada. No Japão, por exemplo, a doença rosui, cujo conceito é "declínio associado à velhice", foi a terceira principal causa de morte em 2021. “Hoje em dia, diríamos: 'Ela tinha todos os tipos de condições, mas como era velha, digamos que morreu de velhice'”, afirmou o gerontologista Akihisa Iguchi ao jornal The Wall Street Journal.

Soma-se a isso o fato de que muitas famílias até preferem não saber a causa exata que levou à morte de um parente de idade avançada. Quando a Rainha Elizabeth II faleceu em 2022, a causa dada foi "velhice". A razão real de morte nunca foi revelada pela família real.

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