Ciência
04/04/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 04/04/2024 às 12:00
Pense em alguma coisa bem nojenta que já tenha ocorrido com você, como ingerir comida estragada, sentir cheiro de chulé ou passar por um caminhão do lixo. Se você já passou por uma dessas situações, é bem provável que essa lembrança volte muito rapidamente à sua mente, com detalhes muito vívidos sobre cheiro, sabor e toque.
Na verdade, essas memórias desagradáveis costumam ficar mais consolidadas na nossa memória do que as que são cheirosas e limpinhas. E, mais do que isso, é mais fácil ter novamente a experiência com o cheiro e o sabor de coisas nojentas do que relembrar da imagem e do som naquele acontecimento. E a razão disso pode ter a ver com nosso instinto de sobrevivência. Confira a seguir por que isso ocorre.
Biologicamente falando, o nosso instinto é sempre evitar passar por situações nojentas: costumamos fugir das sensações aflitivas aos nossos sentidos. Contudo, vale saber que o nojo tem uma função importante: ele nos ajuda a evitar passar por ameaças que detectamos por meio do corpo. É por meio deles que sabemos que uma comida está estragada, por exemplo, e assim passamos a fazer de tudo passar ficar longe dela.
Então, é fundamental que a nossa memória sobre aquilo que é asqueroso esteja mais consolidada na nossa mente. Para testar como isso acontece com as pessoas, alguns cientistas fizeram um experimento. Eles pediram para que os participantes de uma pesquisa narrassem histórias repulsivas que viveram, das mais recentes às mais antigas. Em seguida, eles pediram para que essas pessoas avaliassem o quanto os sentidos as ajudaram a relembrar o evento de maneira vívida.
O que os pesquisadores notaram é que as experiências nojentas estão mais conectadas aos sentidos proximais (quando a origem do estímulo atinge uma superfície sensorial do organismo): tato, paladar e olfato. Já as experiências assustadoras e pavorosas são ligadas aos sentidos distais, que são a visão e o som.
Com isso, concluiu-se que os sentidos proximais são essenciais para nos auxiliar a evitar passar novamente por experiências que nos levariam a ficar doentes. Por exemplo: o sabor e a sensação do leite estragado têm mais força em nossa lembrança do que sua imagem e som. Por outro lado, uma experiência de medo, como a de ser atropelado por um carro, provavelmente remeterá mais ao som e à imagem do que ao cheiro e ao tato da situação.
Por isso, na próxima vez que você passar por um caminhão de lixo e ficar enojado pelo cheiro de podre que vem desse local, ao invés de ficar irritado, fique feliz. Se não guardássemos essas memórias e não as ativássemos com muita facilidade, é bem provável que muitos de nós nem estaríamos mais aqui para contar a história.