Por que um esqueleto de baleia-azul ainda vaza óleo 26 anos após a sua morte?

23/10/2024 às 09:002 min de leituraAtualizado em 23/10/2024 às 09:00

Visitar o New Bedford Whaling Museum, em Massachusetts, pode ser uma experiência incrível — mas cuidado onde você fica embaixo do esqueleto da baleia-azul de 20 metros de comprimento. Isso porque, mesmo após 26 anos da morte, esses ossos gigantes continuam vazando óleo. Sim, você leu certo! A baleia, chamada de King of the Blue Ocean (ou KOBO, para os íntimos), continua a pingar óleo de suas enormes vértebras.

Essa curiosidade vem de um fato peculiar sobre baleias: seus ossos, especialmente os da baleia-azul, são cheios de tutano com muito óleo. “O óleo é uma fonte de energia essencial para esses animais, principalmente durante períodos em que não se alimentam”, explica Robert Rocha, curador associado do museu. E, diferentemente de ossos humanos, que têm bem menos óleo, o esqueleto de KOBO nunca passou pelos processos naturais de drenagem de óleo no fundo do mar, já que ele foi encontrado preso ao casco de um navio.

Um acidente trágico e uma descoberta surpreendente

Coletor de óleo em instalado abaixo do esqueleto para que o museu pudesse monitorar quanto óleo ainda vazava de seus ossos. (Fonte: New Bedford Whaling Museum/Reprodução)
Coletor de óleo em instalado abaixo do esqueleto para que o museu pudesse monitorar quanto óleo ainda vazava de seus ossos. (Fonte: New Bedford Whaling Museum/Reprodução)

O animal, quando foi encontrado, tinha aproximadamente cinco anos e pesava cerca de 36 toneladas. Sua morte foi o resultado de uma colisão acidental com um navio de carga de 148 metros de comprimento. Mesmo sendo os maiores animais do planeta, as baleias-azuis não conseguem escapar dos grandes navios que cruzam os oceanos. KOBO foi uma dessas vítimas e acabou sendo levada para terra firme, onde cientistas a dissecariam para estudos e, mais tarde, a colocariam em exibição.

O detalhe curioso, no entanto, é que os pesquisadores que cuidaram de seu esqueleto não se preocuparam em retirar o óleo dos ossos, o que costuma ser feito expondo-os ao sol. Isso fez com que a baleia se tornasse uma "fonte contínua" de óleo, gotejando diariamente no museu. Em 2010, foi instalada uma espécie de coletor de óleo perto de seu focinho e vértebras, onde o museu já conseguiu armazenar mais de 1 litro do material em um frasco.

Apesar do incômodo de KOBO pingar óleo sobre os visitantes, há quem veja o ocorrido com humor. O apresentador de rádio Chris Arsenault, por exemplo, contou que, ao visitar o museu, sentiu algo molhado na nuca e percebeu que uma gota de óleo havia manchado sua camisa branca. "Tive que me desfazer dela", brincou Arsenault, sem guardar rancor da gigante dos mares.

Óleo de baleia: de mancha na camisa a munição de guerra

O curador associado de ciência e pesquisa, Robert Rocha, limpando o esqueleto do animal que está em exibição no museu desde o ano 2000. (Fonte: New Bedford Whaling Museum/Reprodução)
O curador associado de ciência e pesquisa, Robert Rocha, limpando o esqueleto do animal que está em exibição no museu desde o ano 2000. (Fonte: New Bedford Whaling Museum/Reprodução)

Antigamente, o óleo das baleias-azuis não era aproveitado para lamparinas ou outros usos comuns na época da caça às baleias. Somente com a chegada das fábricas costeiras é que o óleo dos ossos começou a ser extraído em grande escala, inclusive para uso militar. Durante a Primeira Guerra Mundial, os britânicos usavam o óleo para prevenir o "pé de trincheira" e até mesmo para proteger o rosto dos pilotos do vento e do sol.

Curiosamente, o óleo de baleia também era utilizado na fabricação de nitroglicerina, um dos componentes de explosivos usados em ambas as guerras mundiais. No entanto, Rocha explica que apenas o óleo das baleias com barbatanas, como as baleias-azuis, era adequado para isso, já que as baleias dentadas produzem um óleo com cera que servia mais como lubrificante. 

Então, enquanto KOBO continua vazando óleo em um museu pacífico, sua história nos lembra o impacto gigante das baleias não apenas no oceano, mas também na história humana.

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