Artes/cultura
17/06/2024 às 10:00•2 min de leituraAtualizado em 17/06/2024 às 10:00
Um estudo recente revela que a linhagem dos cavalos modernos começou há 4,2 mil anos, transformando nossa compreensão da domesticação desses animais. Os pesquisadores analisaram o DNA de cavalos antigos e modernos, descobrindo que uma linhagem surgida na estepe Pôntico-Cáspia (atual Bielorrússia, Ucrânia e Rússia) se espalhou rapidamente pela Eurásia, tornando-se ancestral dos cavalos atuais.
Antes desse evento crucial, a domesticação de cavalos parecia ter começado há cerca de 5,5 mil anos, na Ásia Central, com o povo botai. No entanto, essa primeira tentativa foi mais modesta e não deixou um legado duradouro.
Os botai, caçadores-coletores, provavelmente usavam os cavalos para produção de leite e carne, mas sua cultura não perpetuou a prática. Isso levou os especialistas a acreditarem que, após o desaparecimento dos botai, os cavalos voltaram à vida selvagem.
Segundo o estudo, a verdadeira transformação veio com a cultura sintashta, da Idade do Bronze, que domesticou cavalos há aproximadamente 4,2 mil anos. Diferente dos botai, os sintashta usaram os cavalos para mobilidade, o que lhes permitiu expandir rapidamente seus territórios pela Eurásia.
Essa disseminação foi tão rápida e eficaz que, em apenas três séculos, os cavalos da Espanha eram geneticamente semelhantes aos da Rússia. Os sintashta conseguiram manipular a reprodução dos cavalos de tal maneira que reduziram o intervalo entre gerações de sete para quatro anos, acelerando a produção de animais domesticados.
A pesquisa também revelou uma mutação genética crucial nessa nova linhagem de cavalos, que mudou o formato de suas costas, facilitando a montaria. Essa característica pode ter sido um fator decisivo para a sua rápida adoção em várias culturas da Eurásia.
Antes dessa descoberta, acreditava-se que os yamnaya, outro povo da Idade do Bronze, tinham sido os primeiros a montar cavalos cerca de 5 mil anos atrás, mas os novos dados genéticos indicam que os cavalos domesticados por eles não são os ancestrais diretos dos cavalos modernos.
Os cientistas ainda mostraram que o controle humano sobre a reprodução dos cavalos aumentou significativamente suas taxas de sobrevivência. Sob cuidados humanos, os cavalos viviam em ambientes mais seguros, o que resultava em menos perdas de éguas e potros recém-nascidos em comparação com os cavalos selvagens.
Esse ambiente protegido permitiu que os cavalos se reproduzissem mais cedo e frequentemente, contribuindo para a rápida expansão de sua população.
É interessante notar que a domesticação de outros animais, como ovelhas e cabras, já havia ocorrido milhares de anos antes dos cavalos. Essa experiência prévia provavelmente ajudou os sintashta a dominar rapidamente a criação de cavalos.
A habilidade de domesticar e criar cavalos rapidamente fez com que esses animais tivessem um lugar especial nas sociedades humanas, influenciando a mobilidade, a guerra e a agricultura de maneira profunda.
O fato é que a linhagem dos cavalos modernos não só transformou a história da domesticação animal como também moldou a própria trajetória da humanidade. Ao fornecer mobilidade rápida e eficiente, os cavalos permitiram que culturas se expandissem e interagissem de maneiras antes inimagináveis, deixando um legado que ainda vemos refletido nas relações entre humanos e cavalos até hoje.